A roleta do destino

Na roleta do destino

Apostei a minha vida

Era eu simples menino

Sem um lar e sem guarida

Sem direito a ter ensino

Sem direito a uma lida.

Assim eu vivia a vida

Conforme a ocasião

Quase sempre pervertida

Abraçado à solidão

Violência é permitida

Como sendo opinião.

Meus desejos eram pequenos

Feitos de sonhos e laços

Faziam um menino ingênuo

E carente de abraços

Não sabia do veneno

Que havia em meu encalço.

Pra viver na malandragem

Esperava o sol se por

Fingia muita coragem

Fingia não sentir dor

Na verdade a minha imagem

Era de provocar dor.

Certo dia ao caminhar

Para escolher alguém

Para à noite eu assaltar

E ficar com os seus bens

Ouvi uma voz falar

Você merece o que tem.

Eu fingi nada ouvir

Mas a voz era insistente

Se não tem aonde ir

Aproveite e vá em frente

Muito há pra descobrir

Abandone a sua gente.

Ei fiquei ali parado

Sem saber a direção

Quando então vi ao meu lado

Um austero cidadão

Que falava compassado

E me entendia a mão.

Segurei naquela mão

Mesmo sem compreender

Nela vi uma lição

Que teria de aprender

Sem nenhuma explicação

Comecei a entender.

Entendi o sofrimento

Como sendo a consequência

De um desalinhamento

Feito pela inconsequência

Que afeta o pensamento

E alimenta a incompetência.

Fui seguindo o cidadão

Sem saber aonde iria

Segurando a sua mão

Senti que me protegia

Sem saber qual a razão

Perguntei se me queria.

Ele respondeu que sim

Mas depois que eu mudasse

Teria de ser assim

E que eu nada falasse

Para tudo existe um fim

Eu com isso acostumasse.

Aceitei ficar calado

Para ouvir minha lição

Apesar de educado

O velhote era durão

Exigia que o Estado

Desse boa educação.

Comecei compreender

O limite que faltava

Pouco a pouco a aprender

E assim me educava

Depois que aprendi a ler

Toda noite eu estudava.

Certo dia uma donzela

Disse assim: gosto de ti

Era extremamente bela

Isso eu logo percebi

Dei-lhe uma rosa amarela

Que no jardim eu colhi.

Eu fiquei apaixonado

Mas sabia ser difícil

Eu jamais fora empregado

Não tinha nenhum oficio

Estava despreparado

Pra firmar um compromisso.

Fui então ver meu senhor

Encontrei-o em um celeiro

Perguntei se, por favor,

Poderia eu ser primeiro

A falar do meu amor

Que vivia por inteiro.

Novamente ele me ouviu

E me disse com alento

Vejo agora que seguiu

Caminhando mais atento

Vejo agora que se uniu

Ao mais nobre sentimento.

Vá depressa confessar

Para a dama o seu amor

Ela está a esperar

Por você, conquistador,

Vá com ela se casar

Ela sabe o seu valor.

Eu com ela me casei

Tive um lar e fui feliz

O meu mestre acompanhei

Pra saber o que ele diz

Na família eu encontrei

O amor que eu sempre quis.

Renato Lima
Enviado por Renato Lima em 23/03/2019
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