NAS RAÍZES DO SERTÃO...
Como é bonito o sertão
No tempo da chuvarada
A terra toda encharcada
Onde o pé se atola
A passarada se alegra,
E canta feliz assim
Tiziu e papa-capim,
Um golado sem gaiola
Canta o galo de campina
O concriz, o azulão,
O vem-vem e o cancão,
Asa-branca, bem-te-vi,
O graúna, o sabiá,
Casaca-de-couro e xexéu,
A rolinha, o tetéu
Gangarra e juriti
Um pau de jurema seco
Na seca a gente olha
E quando a chuva molha
Esverdeia, brota flor
Aroma de mato verde
Vai começar o plantio
O preparo do "baixio"
Anima o agricultor
O dia já vira noite
Um pingo d'água na cara
Me tremo feito uma vara
Logo que o céu escurece
Um raio cortando o céu
O trovão parece um rombo
E o medo do estrondo
Para Deus faço uma prece
Joga a mão de pilão,
Lá fora, acalma o vento
Vai embora num momento
Pra ventania cessar
No breu escuro da noite
Ouço um sapo coaxando
Isso é ele avisando
Que o tempo vai mudar
De manhã o sol desponta
Plantação matou a sede
E o pé de manga verde
A enchente derrubou
A força da tromba d'água
Tira tudo do lugar
Nem o pé de jatobá
Com o vento num aguentou
Açude cheio sangrando
Na sangria, o desafio,
O peixe que desce o rio
É preso no manzuá
Cachoeiras transbordando
Arranca a raiz do pé
Tilápia, tucunaré
Eu pesco de landuá
Na cumeeira da serra
Se forma um nevoeiro
O aboio do vaqueiro
Faz o gado despertar
O beija-flor muito esperto
Faz o ninho na urtiga
Onde a cobra inimiga
Não pode lhe atacar
O sertanejo festeja
Sua mesa de fartura
Agradece a agricultura
Na luta do dia a dia
Milho, arroz e feijão
Jerimum e macaxeira
Queijo de coalho na feira
Batata e melancia
Engorda uma galinha
Que vai parar na panela
Guisada ou cabidela
No almoço ou no jantar
Arroz da terra no leite
Feijão de corda e cuscuz
Tudo que a terra produz
Para se alimentar
Pendurado num arame
Um pedaço de toucinho
Todo dia um pouquinho
Como manteiga é usado
Manda matar um bode
Pra comer uma buchada
Uma costela assada
E um gostoso picado
Uma vaca que deu cria
Tem um bezerro mamado
O leite que é ordenhado
Sai do peito bem quentinho
Vejo uma galinha choca
Arrastar asa no chão
Pra ninguém botar a mão
Na cabeça do pintinho
O milho que é colhido
No cilo vai ser guardado
Fica ali armazenado
Pra durar o ano inteiro
Na caatinga seca
A chuva é a salvação
Das raízes do sertão
Do nordeste brasileiro
Autor: Alexandre de Sousa Costa