A CABEÇA E O CORPO
Por Gecílio Souza
Aquela cabeça pensante
Falou ao corpo que sente
Por favor me acompanhe
Devo andar sempre na frente
Vejo melhor o caminho
Sou luz em forma de mente
Compete a mim vislumbrar
Qualquer perigo iminente
É meu dever conduzí-lo
Que garanto preveni-lo
De algum ato inconsequente
O corpo disse à cabeça
De uma forma elegante
Sei que você vê melhor
E enxerga bem adiante
Mas por favor me permita
Ao menos por um instante
Assumir a dianteira
Deste processo instigante
Passada esta situação
Você retoma a direção
Querida cabeça pensante
Tudo bem, disse a cabeça
Olhe a nossa divergência
Mas saiba que entre nós
Há uma interdependência
Exercemos um sobre o outro
Recíproca interferência
Insisto em advertí-lo
Mas ignora a consciência
Você confunde os assuntos
E nós dois sofremos juntos
Indesejável consequência
O corpo impaciente
Respondeu meio sem jeito
De fato pagarei um preço
Mas de todo modo aceito
Sem dúvida as minhas escolhas
São opostas ao seu pleito
Minha meta é o prazeroso
Você conduz ao bem feito
Sua natureza é pensar
E a minha é desfrutar
De tudo que tenho direito
A cabeça disse ao corpo
O prazer não é ruim
Mas satisfazê-lo sempre
Não sai tão barato assim
A sua duração é curta
Mal começa chega ao fim
E depois de satisfeito
Pagará tim tim por tim tim
Você quer mesmo sofrer
Ou está pretendendo ser
Independente de mim?
O corpo se contorceu
Tentando se controlar
E falou para a cabeça
Necessito extravasar
Tantos desejos que sinto
Assim não posso ficar
Seja mais condescendente
Você vive a me cobrar
Sou uma espécie de animal
E você é um tribunal
Dia e noite a me julgar
Medindo cada sentença
Prevendo mal entendido
A cabeça respondeu
Escute aqui, meu querido
Devo controlar seus impulsos
Ou então será punido
Com o próprio sofrimento
Por você ter escolhido
Negar a minha autoridade
Se consome na ansiedade
Fica triste e envelhecido
O corpo fez uma pausa
Em posição de espera
E disse para a cabeça
Você não me considera
Fui feito para o deleite
Dele faz parte a paquera
E sei que para o meu bem
Você sempre se esmera
Mas lhe peço me conceder
Algum espaço de prazer
Deixe de ser tão severa
Com mais clareza ainda
Para o corpo entender
A cabeça respondeu-lhe
Nunca me opus ao prazer
Proporciono o equilíbrio
Para nenhum de nós sofrer
Satisfaça os seus desejos
Sem a prudência perder
Ilumino e você faz
E assim estaremos em paz
Porque o bom mesmo é viver.
G. S.