CORDEL – Mote – Não queira fazer de mim – Um pobre desesperado – 03.09.2016 (PRL)

Esquema de rimas ABABCDCD
Oitavas de sete sílabas poéticas
CORDEL – Mote – Não queira fazer de mim – Um pobre desesperado – 03.09.2016 (PRL)
 
 
(1)
Por favor, não me machuque,
Não venha me maltratar
Eu bem conheço seu truque
Porquanto quer me matar
Já moro no botequim
O meu fim está traçado
Não queira fazer de mim
Um pobre desesperado
(2)
Não me acuse nada fiz,
Sou um pobre, mas direito,
Estou mal não porque quis
No fundo sou bom sujeito
Não abrevie o meu fim
Porque vivo acabrunhado
Não queira fazer de mim
Um pobre desesperado
(3)
Bebo só para esquecer
Do meu triste sofrimento
Quem quiser pague pra ver
Meu desfecho, meu lamento,
Já fui bom no bandolim
Um tocador afamado
Não queira fazer de mim
Um pobre desesperado
(4)
Até sanfona toquei
Imitando o Gonzagão (*)
Mas muitas vaias levei
Pra tocar minha canção
Apague do boletim
Não mereço ser guindado
Não queira fazer de mim
Um pobre desesperado
(5)
Minha mulher me deixou
Pois me pegou em flagrante
A danada me beijou
Tinha fama de falante
Isso pra mim foi ruim
Claro fiquei aloprado
Não queira fazer de mim
Um pobre desesperado
(6)
Foi numa festa de rua
Daquela que sempre arromba
A danada quase nua
Inspirada numa pomba
Ela sendo manequim
Com seu corpo perfumado
Não queira fazer de mim
Um pobre desesperado
(7)
Então me perdi pensando
Como seria o banquete
Porque ela me alisando
Começou o tiranete
Porque comigo é assim
Mando logo meu recado
Não queira fazer de mim
Um pobre desesperado
(8)
Mas a velhice chegando
Coração despedaçado
Da vida vou desligando
Só resta esse meu passado
De mulher e boemia
De prazer endiabrado
Não queira fazer de mim
Um pobre desesperado
(9)
Mas enquanto tiver força
Vou lutando sem parar
quem quiser que por mim torça
Sem jamais desanimar
Pois a vida só acaba
Quando o prazer for minguado
Não queira fazer de mim
Um pobre desesperado
(10)
Esse cordel começou
Já vai fazer uns três anos
A preguiça dominou
Já rolaram alguns panos
A inspiração foi embora
Levando todo legado
Não queira fazer de mim
Um pobre desesperado

 
(*) - Trata-se de Luiz Gonzaga, sanfoneiro, compositor e cantor nordestino, conhecido como o Rei do Baião, já falecido.
Silva Gusmão
Foto: INTERNET/GOOGLE - Bar do Doido - Litoral do Recife, próprio para se tomar uma cerveja gelada e comer os mais variados pratos típicos da região. Merece ser visitado.

INTERAÇÕES:

08/01/19 10:58 - Mariana Mendes, muito me agradou com sua interação...meu abraço cordial.
Olá, amigo Ansilgus. Ler seus cordéis é receber uma aula das mais
interessantes e eficazes ! Amei esse personagem dado a farras,
mulheres e botequins.Tentei te imitar, rs. 
 
Não se puna, cabra bom
Tem meu reconhecimento 
Farrear é também dom 
movido por sentimento
Dos cordelistas daqui 
Você é o mais respeitado 
Não quero fazer de ti
Um pobre desesperado  
 
Adoro cordel, voltarei
para apreciar e aprender. Abração. Belo 2019 pra você e família!

08/01/19 16:23 - Tiago Duarte também veio...nosso abraço.

Você é bom no cordel ..
Um enorme cordelista ..
Eles têm gosto de mel
Você tá na minha lista  ..
Diferente de Caim ..
Que provou ser bem malvado...
"Não queira fazer de mim ..
Um pobre desesperado"!

Saudações, amigo!

10/01/2019 10:08 - Jacó Filho. sempre um craque, interagiu, grato:

Sempre quis perto de mim,
Um produto destilado.
Mas fugi dos botequins,
Sem andar embriagado.
Mas meu amor teve fim,
Ao ser sem prova, acusado...
Não queira fazer de mim
Um pobre desesperado.

Parabéns!
ansilgus
Enviado por ansilgus em 07/01/2019
Reeditado em 10/01/2019
Código do texto: T6544844
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2019. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.