O TREM
O rio manso caudaloso se agita. (Daniel)
Já faz tempo que não pego
O famoso e lento trem,
Que chacoalha-coalha-coalha
Em seu gostoso vaivém,
Ouvindo os seus ambulantes
Gritando feito quem-quem.
Pessoas de todo tipo,
Cor, idade, peso, altura,
Porém todos são da mesma
Classe pobre, sem ventura,
Procurando lenitivo
No mister, que é uma tortura.
Crianças que em tenra idade
Trabalham como os adultos,
Pulando pra cá e pra lá,
Ofertando seus bons cultos
Aos usuários perdidos
Nos pensamentos e vultos.
Desejam sobreviver
Agarrando-se a centelha
De vida que é fornecidas,
Às vezes sem casa ou telha
E demonstram os seus sorrisos
Doces feitos mel de abelha.
Pessoas dormem cansadas,
Fatigadas pelo trampo,
Sonham co'o lindo arrebol
Que só vemos lá no campo,
Esperando a data certa
Que aparece o pirilampo.
Talvez um sonho infantil,
Aguçado, destemido...
Talvez um sonho qualquer
Que por ninguém foi ouvido
Ou, quem sabe, um infactível:
Sucesso, o _One Piece_ obtido.
Quem vai saber que se passa
No quengo do maquinista?
Ele vê tantos lugares,
Sempre os mesmos, a conquista
É chegar com segurança
Ao final da longa pista.
Pista que todos estamos
Caminhando pra chegar
Na alvorada lá do Além
Que tanto se ouve falar,
No chacoalha-coalha-coalha
Deste tão intenso mar.