O NATAL DE UM MATUTO.

O meu natal é na rede

Pensando noutro natal

Sem neve da cor da cal

Sem enfeite na parede

Meu natal não tem o verde

Que tem os pés de pinheiros

Não tem carne de carneiros

Não tem vinho nem pernil

Meu natal é num Brasil

De parteiras e vaqueiros.

O meu natal é distante

Do natal da fantasia

Todo de hipocrisia

Fraco, feio e pedante

Não possui bola brilhante

E nem som de violino

Não possui Jesus menino

Feito de um boneco

Tão pouco não tem o eco

De um badalar de sino.

O meu natal é num rancho

Feito de força e raça

Onde se come a caça

Assada em um garrancho

Na parede tem um gancho

Ande eu guardo carvão

Como charque com feijão

Ao invés de um peru

No meu natal tem umbu

Macaxeira e pirão.

O meu natal é de trova

Numa viola barata

Não tem ouro e nem prata

Nem eu visto roupa nova

O meu natal é a prova

De um cenário fiel

Pintado com o pincel

Do grande Onipotente

Meu natal não tem presente

Quanto mais papai noel.

Meu natal é todo dia

Quando vou dormir cansado

Sentindo aliviado

Que cumpri o que queria

Não faço lista vazia

Pra cumprir o ano inteiro

A minha meta primeiro

É acordar mais disposto

O meu natal tem o gosto

Do sereno no terreiro.

O meu natal não se veste

De adorno reluzente

Meu natal veste somente

É a roupa do nordeste

Do sertão e do agreste

Aonde tudo é arte

Mais quando o céu se parte

No natal do meu torrão

Não é show de foguetão

É tiro de bacamarte.

Meu natal não tem lapinha

Nem presépio de Belém

Pois o meu natal só tem

É cabrito com farinha

Bode, molho de galinha

Essas coisas de roceiro

Que vive sem ter dinheiro

E nem cobiça riqueza

Meu natal tem a beleza

De um natal cangaceiro.

O meu natal não tem ceia

E nem amigo oculto

Meu natal não tem tumulto

Onde a raiva passeia

Meu natal é na areia

Onde planto meu anseio

E a noite sem receio

Se enfeita de estrelas

Me dando gosto em vê-las

Com uma lua no meio.

Meu natal não tem mensagem

Que só vem de ano em ano

Meu natal não tem engano

E nem gosta de vantagem

Meu natal tem na bagagem

A terra a e a semente

Que eu colho mais pra frente

Com amor forte e leal

Meu natal é mais natal

Que natal de muita gente.

Porem eu sou um cristão

que carrega o costume

De exalar o perfume

Das fendas do coração

Por isso caro irmão

Não critico nem refuto

Apesar deu ser um bruto

Criado no arraial

Deixo um feliz natal

São votos deste matuto.

Ebenézer Lopes
Enviado por Ebenézer Lopes em 23/12/2018
Reeditado em 13/12/2020
Código do texto: T6533889
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