A linguage do sábio.
Diz o sábio em seu escrito
Que o saber não lhe pertence
Assegura que o seu grito
A si mesmo não convence
Diz que só fala esquisito
E que à solidão não vence.
Todos dizem que o saber
Advém de muito estudo
Isso eu posso entender
Pois o livro é um sábio mudo
Mas não vou compreender
Como aprende o sem estudo?
Ele um livro não conhece
Nem o seu nome ele escreve
Seu falar o enobrece
Mas a fala é sempre breve
Ele nunca desmerece
A quem duvidar se atreve.
Sua voz é altaneira
Suave e elegante
Nunca quer ser a primeira
Sempre espera o seu instante
Se alguém fala uma asneira
Ele diz ser importante.
Seu passado já contou
O presente é o que interessa
Tudo o que conquistou
Nada foi fazendo às pressas
Tudo aquilo que falou
Nada há que lhe estressa.
Se uma coisa o aborrece
Ele mostra simpatia
Se a voz de alguém fenece
Ele empresta a alegria
Se a dor dele aparece
Ele diz ser ninharia.
Este sábio está distante
Das querelas infundadas
Está sempre um passo adiante
Das fortunas fracassadas
Vê o sol sempre brilhante
Onde há nuvens carregadas.
É o sábio que uma escola
Jamais ele frequentou
Sequer sabe o que é cola
Porque nunca estudou
Um caderno na sacola
Ele nunca carregou.
Nunca pegou a caneta
Para escrever discurso
Nunca ocupou gaveta
Com apostila de concurso
Aprendeu com a velha preta
A guardar algum recurso.
No seu lar ele é falante
Sabe ouvir o inocente
No labor ele é constante
No falar ele é prudente
Na resposta ele é pensante
Pra não ser incoerente.
Na família está presente
Sempre pronto para ouvir
Para ouvir fica silente
Não aceita discutir
Nunca fica impaciente
Simplesmente pra punir.
Pode ser analfabeto
Isso não é importante
Não saber o alfabeto
Também nada interessante
Ele sempre está por perto
Pra ajudar o semelhante.
Sua igreja é o seu lar
Guarda Deus no coração
Tem prazer em ajudar
Sempre estende a sua mão
Quando sai pra trabalhar
Sempre faz uma oração.
No trabalho é pontual
Cumpre bem o seu contrato
Seu sorriso é natural
Não concorda com mau trato
Sua mão não faz o mal
Com ninguém ele é ingrato.
Quando o sábio finalmente
Tem seu dia de descanso
Ele acorda facilmente
Pra esposa ele olha manso
Diz que ela é o presente
Que não precisou de avanço.
Esse sábio impertinente
Já mostrou o seu saber
Nunca diz o que ele sente
Nunca admitiu sofrer
Seu pensar obediente
É o que faz aprender.
Em vocês ilustres sábios
Que não aprenderam a ler
Se encontram alfarrábios
Com montanhas de saber
Junto a ti fecho os meus lábios
Tenho muito a aprender.