A MINHA INFÂNCIA EM SEXTILHAS
I
Nunca fui cabra valente,
mas matei pinto e rolinha,
periquito, papa-sebo,
sabiá, cancão, golinha
(e outros mais...) com baladeira
disparando uma pedrinha.
II
Fui de apanha de algodão;
de juntar gado na brenha;
de assar castanha em trempe;
de, na rua, vender lenha;
de aprender a tabuada
sem ter que digitar senha.
III
Peguei peixes com a mão
nos açudes que sangravam;
caminhei pelas veredas
que, os caminhos, encurtavam;
e brinquei pelos terreiros
quando as horas me sobravam.
IV
Eu peguei muito caçote
em lameiros e em vertente
pra fazer isca de anzol
e pescar, ao sol poente,
que é a hora que a traíra
fisga a isca vorazmente.
V
Eu chupei cana caiana,
cajarana, imbu, cajá...;
comi pinha, graviola,
canapum e trapiá...;
tomei muita água de pote,
chá de boldo e aluá.
VI
Foi com pipas, ancoretas,
galões d’água, roladeiras...
que eu botava água nos potes
(que eram nossas geladeiras),
nos tonéis, caixas e em tanques
(que eram as nossas banheiras)
VII
Carreguei, em caçuás,
"macaxera", "míe", "fejão",
"jirimum", batata, arroz,
côco seco e "argudão"
rapaduras e bananas,
cana em soca, e até "caivão".
VIII
Comi muita melancia
recolhendo da touceira;
e, com tanta gulodice,
devorava a talha inteira
chega o suco em mim descia
como numa cachoeira.
/tjfl