Acesso à Justiça.

O acesso à justiça

É discurso enganador

Penso ser mera cobiça

Do Estado gastador

Vejo como uma injustiça

Cobrar do trabalhador.

Quem vai ao judiciário

Vai sabendo de antemão

Vai enfrentar um rosário

Sem saber qual a razão

É consuetudinário

Prorrogar a decisão.

O advogado cobra

O delegado aumenta

A polícia o preço dobra

Escrivão o atormenta

Pro juiz ele é a sobra

Que à justiça dessedenta..

Quando está desempregado

É olhado com desdém

Sempre há um desocupado

Prometendo fazer bem

Não recebe um só recado

De alguem que ele quer bem.

Na Justiça do trabalho

Ou Justiça itinerante

Sempre visto como falho

Enganado a todo instante

Soube que é um atalho

Pra quem é o reclamante.

O patrão, se processado,

Em geral propõe acordo

Paga tudo parcelado

E assim fica mais gordo

Sempre é beneficiado

Apesar do desacordo.

La na Vara de Família

Ele é o pai desnaturado

Que não dá pensão à filha

Que já ganha um ordenado

Ela segue a sua trilha

Diz que o pai é celerado.

Se não pagar a pensão

Então vê a coisa feia

Sem qualquer explicação

Vai ser posto na cadeia

Aprender la na prisão

A tirar a vida alheia.

A mulher fica com o filho

Para o qual sempre ensinou

Que o pai saiu do trilho

Não trabalha e se mandou

E repete o estribilho

O seu pai nunca prestou.

Se ele arranja outra mulher

É de novo processado

Condenado se tiver

Conseguido um ordenado

Vão dizer que ele quer

Ver o filho esfomeado..

O juiz não o perdoa

Promotor o tripudia

A mulher sorri a toa

Isso é tudo o que queira

Ela diz que está na boa

Mas quer vê-lo em agonia.

Quando passa dos quarenta

Logo chega o desemprego

A mulher o afugenta

Tira todo o seu sossego

Apesar disso alimenta

Esperança de um emprego.

Se consegue aposentar

Logo vem algum parente

Dizer para ele mudar

Para um lugar decente

Tem um quarto pra alugar

Mas pra ele é de presente.

Vai só ajudar na luz

E reformar o banheiro

Morar bem ele faz jus

Vai dormir o dia inteiro

E por ser igual Jesus

Vai doar o seu dinheiro.

Se acaso reclamar

Alguém diz que um ancião

Chegou para incomodar

Não tem outra ocupação

Veio para atazanar

Quem estava de plantão.

Quando fica bem idoso

Sempre ouve alguem falar

Que ele é maravilhoso

E precisa se casar

Precisa mudar de pouso

Pro quarto desocupar.

Quando ele falecer

Aparece algum herdeiro

Pensando so ele ter

Direitos sobre o inteiro

Na hora de receber

O Estado é o primeiro.

Tudo que ele acumulou

Serviu pra pagar imposto

Pouca coisa ele deixou

Apesar de ser disposto

Da vida que trabalhou

Leva somente desgosto.

Renato Lima
Enviado por Renato Lima em 17/11/2018
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