JUDITE

No dia 23 de setembro de 2018, minha avó, minha mãe Judite, cumpriu seu destino na terra. Visando eternizar sua essência, elaborei um cordel sobre suas características, seu jeito de ser, que encantou e inspirou familiares e amigos.

J unto aos anjos fostes morar

U m vazio imenso deixastes

D uma docilidade que envolvia

I nevitavelmente conquistastes

T odos que te conheceram

E terna marca consolidastes

J aneiros numerosos vivenciastes

U ma prole formidável resultou

D eixando oito filhos e netos

I nda bisnetos, mérito, louvor

T u escrevestes linda história

E ste humilde cordelista inspirou

J udite que muitos encantou

U ltra especial, uma guerreira

D esempenhando vários ofícios

I nquieta e criativa brasileira

T endo ética, primor, dinamismo

E competência na vida inteira

J eitosa e famosa confeiteira

U ntou formas e velas acendeu

D ebutantes, aniversários, casórios

I nfalível dom desenvolveu

T rajetória vitoriosa celebrou

E ntre glacês fez nome seu

J ota, a inicial que concebeu

U til legado, de doces e salgados

D eliciosos brigadeiros, beijinhos

I rresistíveis canudos recheados

T ambém pastéis, empadas, coxinhas

E xcelentes banquetes organizados

J ogos de linhas manipulados

U nindo pontos, hábil nos tecidos

D esenhava roupas,estilista

I mprimindo em saias e vestidos

T alento no segmento da costura

E cabides diversos foram revestidos

J aboticaba, licores reconhecidos

U ma brejense, rochedo, arretada

D a aguardente fazia o "cachimbo"

I ncríveis bebidas então preparadas

T radição, quando herdeiros visitados

E stas garrafas eram encomendadas

J oias raras, crias admiradas

U rgentes indisposições cuidou

D e três folhas ela logo conduzia

I ncapacitada criança, com amor

T ratando olhado e vento caído

E m casa, rezadeira se destacou

J ustificável, no artesanato brilhou

U tilizando agulhas itens produz

D iversificados objetos para casa

I ntegrados ao ponto de cruz

T apeçaria, bordado e crochet

E stas tramas com brio conduz

J ardineira que semeou a luz

U sou dádivas para lecionar

D ando aula no projeto MOBRAL

I mportante papel desempenhar

T urmas grandes das zonas rurais

E smera professora veio ensinar

J anelas campestres foram o lar

U niverso onde a família alinha

D o lado do grande José Marinho

I rmão o " Seu Zuca da Farinha"

T eve dias de lutas e de alegrias

E seus filhos e filhas encaminha

J ornada de agricultura, a casinha

U mbuzeiro, pinha, milho, feijão

D e cantinho humilde e acolhedor

I nternamente, de lenha o fogão

T erreiro com galinhas caipiras

E vaca leiteira pra manutenção

J ornal sobre a eclética atuação

U nião de construtivos conceitos

D esta matriarca que exerceu

I númeras aptidões e preceitos

T raçou e concretizou sonhos

E ntre tantos objetivos eleitos

J á falados os vocacionais feitos

U ns adjetivos vamos conhecer

D a mulher que formou exemplo

I ndiscutível para inspirar você

T antos afilhados e afilhadas

E sta madrinha, não vão esquecer

J ubilosos almoços fez nascer

U nânimes feriados, afetivo cartaz

D elineado com a moradia cheia

I nteração com parentes, traz

T ropa animada, buchadas de bode

E special dia das mães e dos pais

J aleco maternal, defendia, eficaz

U sava, comprometida a façanha

Do Bairro Lajedo das Gatas

I ncendiava caqueira de castanhas

T ratava e dividia com rebentos

E enviava carinhos, mimos, manhas

J uninas festas, as espigas arranha

U m ralador obtinha amarela massa

D a pamonha e da aromática canjica

I ngredientes cozinha e também assa

Todos os herdeiros contemplados

E receitas quentinhas ela repassa

J erimum uma fruta que abraça

U m coentro, uma cebolinha curtia

D osava o feijão com charque

I nseria alguns quiabos na iguaria

T ípica qualhada, cuscuz e xerém

E nchia o prato, pois apreciaria

J ejum de carne vermelha teria

U ma Semana Santa de bacalhau

D eliciosos chocolates aos netinhos

I mpecáveis arrumações no natal

T irava enfeites para as cortinas

E coloria sua residência para tal

J amais perdia, fã de novela gobal

U m filme de natureza gostava

D omingos, Programa Sílvio Santos

I ncorporou horário, não falhava

T oda noite após trama das nove

E sfriava televisão e se deitava

J argão que diariamente ostentava

U mas quatro da manhã despertando

D isposta, com um sorriso no rosto

I mensurável carinho demonstrando

T emperava refeições fresquinhas

E os descendentes ia acordando

J azida de provérbios, aconselhando

U m destino bom para os seus filhos

D ando educação categórica e rígida

I mparcial, sem eventuais trocadilhos

T extura de moralidade consolidava

E livrava-os de possíveis empecilhos

J angada firme, trem sobre os trilhos

U nicolores telas, de visíveis bonanças

D ona de casa, sólida base, genitora

I rradiou fé, muito amor e esperança

T ranscrevendo páginas sentimentais

E transcendentais capítulos alcança

J asminácea e derradeira estância

U ltimato, minha Vó Judite descansou

D ia vinte e três, no mês de setembro

I rredutível 2018, sina humana findou

T arefa cumprida, história versada

E scrito o cordel que a homenageou

Jonnata Henrique 15/10/18