Caminho de um lutador.
Meus desejos cultivei
Esperando o simples olhar
Da mulher que eu amei
Mas não soube conquistar
Tudo aquilo que eu guardei
Dei pra ela sem falar.
Pouca coisa acumulei
O que fiz foi sem valor
Para ela eu entreguei
Como prova de amor
Sem querer eu provoquei
Sacrifício e muita dor.
Dei a ela o que eu tinha
Pedi pra me perdoar
Ela disse que eu vinha
Somente pra reclamar
E usando uma sombrinha
Expulsou-me do seu lar.
Encostei numa janela
Sem saber aonde ir
A família agora é ela
Não podia resistir
Tudo mais agora é dela
Tinha mesmo de partir.
Fui a esmo caminhando
Sem saber onde chegar
A sacola carregando
Com a roupa por lavar
E assim raciocinando:
Eu na rua vou morar.
Perguntei a um mendigo
Onde ele pernoitava
Ele disse: em um abrigo
Que a prefeitura dava
E que ele, sendo antigo,
A sua janta ganhava.
Perguntei se eu podia
Pelo menos recostar
No lugar que ele iria
Aquela noite passar
Ele disse que eu iria
Na sua cama deitar.
Recusei aquela oferta
Não queira ser injusto
Encontrei a porta aberta
Pra dormir sem levar susto
Porém uma coisa é certa
Na vida tudo tem custo.
Levantei na madrugada
Para o dia começar
Entretanto eu via nada
Esperei o sol raiar
Então vi a garotada
Indo para estudar.
Eu ouvindo a algazarra
Recordei do meu passado
Lembrei de alguma farra
Com o amigo embriagado
E também lembrei da garra
Que tive quando casado.
Vendo aquela meninada
Preparando o seu futuro
Percebi o tudo é nada
E a sorte é ouro impuro
E a fortuna conquistada
Temos de pagar com juro.
Recolhido em pensamentos
Sobre aquilo que restou
Lendo os meus sentimentos
Meu amigo perguntou
Onde estão os documentos
Seu trabalho começou.
Perguntei àquele amigo
Onde iria trabalhar
Ele disse; vem comigo,
Pra você se acostumar
Na verdade eu pouco ligo
Pro que os outros vão falar.
Eu tentei compreender
O que ele me falava
Ele deu a entender
Que muito pouco ganhava
Mas que era o meu dever
Viver com o que ganhava.
Sendo um morador de rua
Eu teria obrigação
Ficar namorando a lua
Não garante nenhum pão
E sonhar com mulher nua
É normal na solidão.
Fui então agradecer
Ao amigo sofredor
Que cumpria o seu dever
Como um bravo lutador
Vivendo sem nada ter
Morreu como um vencedor.
Eu segui minha jornada
Tropeçando ao caminhar
Como eu não tinha nada
Não havia o que deixar
O que dei pra minha amada
Vai um dia retornar.