A RESPOSTA DO CONCRIZ.

Perguntei ao passarinho

Se tinha gozo em voar

Ser pequeno fazer ninho

Pular galhos e cantar

Beber água nos barreiros

Viver com os companheiros

No vale, bosque e mata

Ver do alto espumando

Lindo jorro borbulhando

Águas de uma cascata.

Perguntei se era bom

Amanhecer escutando

O vento fazendo o tom

Entre as folhas soprando

Tomar banho em um lago

Sentir do sol o afago

Aquecendo suas penas

Bicar entre os carrascais

E pousar nos coqueirais

Em belas tardes morenas.

Perguntei se ele gostava

De ser livre e feliz

De ter tudo que amava

De ser apenas concriz

Acasalar sem perigo

E de possuir abrigo

Tão frágil e tão seguro

Acordar ao alvorecer

E depois adormecer

Quando céu se faz escuro.

Perguntei se o céu azul

Era seu ou de ninguém

Se voar de norte a sul

Fazia parte também,

Da sua vida brejeira

E se a flor da ladeira

Seria sua amiga

E se quando ele a via

A beijava e sentia

Que lhe tirava a fadiga.

Perguntei bem curioso

Se ele tinha prazer

Em ver um pasto verdoso

Sobre a colina crescer

Ver as frutas amarelas

E sentir o mel que elas

Tinham em serem bicadas

Encher o papo de grão

Sentir o morno do chão

E partir em revoadas.

Perguntei ao tal míudo

Que valor que isso tem

Ser pequeno ou graudo

E outra coisa também

Se a vida na floresta

Era mesmo uma festa

Uma grande celebração

E se quando acordava

O passarinho louvava

Ao autor da criação.

Triste foram as respostas

Que me deu o emplumado

Eu quase caio de costas

De tão emocionado

Eu escutei com tristeza

Apesar de ter beleza

Naquele pequeno ser

Nada disso desfrutava

E há muito não voava

Desejando ate morrer.

Respondeu o passarinho

Que o mundo se fechou

Que não fazia mas ninho

E assim não mas cantou

Sentia apenas tristeza

E falta da natureza

Onde ele foi chocado

Sussurrou uma canção

Que eu tive a impressão

Que ele tinha chorado.

Disse mas o passarinho

Não vejo o verde da mata

Tão pouco faço mas ninho

Levo uma vida ingrata

Quem dera pudesse agora

Cantar vendo a flora

No galho do cajueiro

Onde fiz uma morada

Com a palha resecada

Pelo o sol de janeiro.

Nunca mais cantei nos vales

Atapetado de flores

Sinto falta dos pomares

Com frutas de todas cores

Sinto a falta do vento

Soprando um sentimento

Da mais pura liberdade

Sob um céu tão bonito

Olhando o infinito

Dobrar a barra da tarde.

Eu gostava de brincar

Com as gotas do orvalho

Cada uma a triscar

A casca fria do galho

Ver bem cedo o campeiro

Romper denso nevoeiro

Na aragem farta e fria

Encharcada do regato

Ouvindo sair do mato

O meu canto de alegria.

Quando vinha o outono

O vento soprava em paz

Cobrindo a serra sem dono

Sob um céu de azul lilás

Uma tocha luminosa

Vinha do sol caprichosa

Aquecendo a região

Enquanto lá nos barrancos

Balançavam lírios brancos

Como cachos de algodão.

Hoje sou prisioneiro

Estou preso pra cantar

Penando nesse viveiro

Sem ninguém pra me soltar

Desa forma eu respondo

Eu sou um sol se pondo

O meu canto é infeliz

Vivo aqui de esmola

Cativo nesta gaiola

Só porque sou um concriz.

Ebenézer Lopes
Enviado por Ebenézer Lopes em 04/05/2018
Reeditado em 04/05/2018
Código do texto: T6326717
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