ILUSÃO QUASE PERDIDA em Cordel

É Natal mais uma vez

Aqui estou novamente

Como em todos os outros anos

A espera do presente

Do Papai Noel querido

Que sempre atende ao pedido

Na grande ilusão da gente.

Mamãe meu querido ente

Contou-me uma linda história

Sobre a Noite de Natal

E guardo bem na memória

Dum bom velhinho chamado

“Papai Noel” bem barbado

Voando no céu a fora.

Num trenó o mundo explora

Por umas renas puxado

Levando um saco bem cheio

De presentes recheado

Para as crianças doar

Mas para poder ganhar

Tem que ser bem comportado.

O presente vai ser dado

Às crianças boazinhas

Que tenham obedecido

Na escola e na cozinha

De comportamento ordeiro

Que durante o ano inteiro

Tenham andado na linha.

Disse que assim Noel vinha

Numa Noite de Natal

Entrando na chaminé

De nossa casa afinal

Enquanto ali se dormia

Depressa entrava e saía

Cumprindo seu ritual.

Dessa forma natural

Vinha o presente deixar

Cuidadoso e comedido

Para não nos acordar

Desse modo concedido

Conforme nosso pedido

Assim em cada lugar.

Mamãe veio revelar

Que devemos escrever

De maneira detalhada

Um bilhete pra dizer

O presente preferido

E depois de redigido

O que devermos fazer.

Dentro dum sapato novo

Deveríamos colocar

Debaixo da nossa cama

E com calma esperar

Sem mais ritual nem drama

Assim se faz e programa

Para o presente ganhar.

Porém me pus a pensar

Sempre fui obediente

Cumprindo meus afazeres

Nunca fui negligente

Nem respondi aos meus pais

Anos e mais um ano vai

E não recebi o presente.

Nesse tempo decorrente

Eu vou ficando esquecido

Não ganhei o meu presente

Que tanto tenho querido

Talvez falhei em não ter

Conseguido aprender ler

Para escrever o pedido.

Nem o bilhete devido

Eu pus no sapato novo

Conforme eu ouvi dizer

Do modo que faz o povo

Pra por de baixo da cama

Não fiz e sofro esse drama

Ninguém vem em meu socorro.

O Natal tornou-se um corvo

Por não saber me expressar

Não sei escrever nem ler

Nem tenho para provar

Sapato novo nem cama

Nem lençol e nem pijama

Nem casa para morar.

Se eu tivesse onde morar

Inda difícil seria

Aqui nem tem chaminé

Nas casas de moradia

As casas são de sapé

No máximo têm um chalé

Sem nenhuma regalia.

Sei que faltou harmonia

Entre eu e meu destino

Hoje estou com muito medo

Porque não sou mais menino

Já, já eu terei crescido

Adulto e desiludido

Nesse mundo peregrino.

Papai Noel natalino

Só dá presente a criança

Deve ser meu último ano

Menino e vem a mudança

Hoje mamãe já morreu

Não tenho o conselho seu

E não há mais confiança.

Se ainda há esperança

Se existe outra saída

Para ganhar esse presente

Ou se está resumida

A esta restrita forma

Ou esta é exclusiva norma

Nessa estrada a ser seguida.

Ah! Se nessa despedida

Desse fio de esperança

O bom Velhinho barbado

Viesse como lembrança

Abraçar-me nessa esteira

No chão nessa noite inteira

Em minha última vez criança!

De Thiago Alves - 24/12/2017

A Arte de Thiago Alves
Enviado por A Arte de Thiago Alves em 24/12/2017
Reeditado em 25/12/2017
Código do texto: T6207358
Classificação de conteúdo: seguro