DECLARAÇÃO.

Vou falar bem baixinho

Pra ninguém me escutar

Porque fala de carinho

Tem no dizer um cantar,

Sou pedra do cariri

Mas pra tu sou juriti

Cantando no teu mourão

Espiando pra janela

Onde dorme a mas bela

Canarinha do sertão.

Ninguém sabe mas eu sei

O que tens no coração

Pois foi lá que eu plantei

O mas pequenino grão

Que reguei com pujança

Pingos de sperança

Com meu simples labor

Pra guando vir florecer

Eu possa assim colher

Os frutos do teu amor.

Quero que chova logo

No teu peito de paixão

Ajoelho e rogo

Pro santo do coração

Pra escutar a prece

porem não se apresse

Porque eu sei esperar

Eu não vou botar fora

Amor fora de hora

É melhor não se plantar.

Então melhor ter calma

E jeito no cultivar

No roçado da alma

Tem de se saber cavar

Limpar bem o ciume

Erva do mal costume

E da desconfiança

Pra guando chover nascer

A semente do prazer

No leirão da esperança.

Quem cultiva sabe bem

O fruto que vai vingar

Não pergunta a ninguém

A maneira de regar,

pois preste bem atenção

Milho, fava e feijão

Servem de alimento

E amor fé e ternura

É a vitamina pura

Na veia do sentimento.

Tu sabes do meu amor

Mas não dá demonstração

As vezes tenho temor

Desta tua reação,

Mas pra quem quer ser feliz

Dá sustança na raiz

Sem deixa-la perecer

Se seca está a terra

Mas fundo ela se enterra

Pra achar o que beber.

Outro dia eu ti vi

Descalça no ribeirão

Confesso esmoreci

Com tão bonita visão

Tua pele molhada

Na cambraia colada

Me deu nó na garganta

Que fiquei mesmo ao leu

Pensando está no céu

De uma matuta santa.

Quis ser eu o ribeirão

Somente por um dia

Pra sentir a tua mão

A tua pele macia

Banhar teu rosto liso

Molhar o teu sorriso

Beijar teus tornozelos

Esfriar o teu calor

Num mergulho de amor

Banhando teus cabelos.

Quis também ser o vento

Soprando no teu lençol

Quis ser por um momento

Pequeno raio do sol

Secando teu vestido

E teu cabelo cumprido

Nos teus ombros castanhos

Confesso que tudo fiz

E ainda também quis

Ser a água dos teus banhos.

Me afastei do lugar

Daquela cena bela

Como quem sai do altar

Sagrado de uma capela,

De penitente me pus

Tracei o sinal da cruz

Refazendo meu pudor

Sentindo no coração

Que aquele ribeirão

Batizou nosso amor.

Ebenézer Lopes
Enviado por Ebenézer Lopes em 18/12/2017
Código do texto: T6201955
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2017. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.