MEU CORDEL CAIPIRA - DO SERTANEJO DE RAIZ AO SERTANEJO UNIVERSITÁRIO. ESSA É A HISTÓRIA DA MÚSICA SERTANEJA
Num tempo muito distante
Em sua taipa de palhoça
O caipira de pé no chão
Da mão calejada e grossa
Sua viola ponteava
E cantando decantava
Detalhes da vida na roça
Quem tinha a “Tristeza do Jeca”
Buscava a felicidade
No repique da viola
Onde gemia de verdade
Declamando com o coração
As grandezas do sertão
Em sua doce rusticidade
O som que nasceu no campo
Um dia chegou à cidade
Foi um tal Cornélio Pires
Que com a sua sagacidade
Iniciou uma peleja
Para que a música sertaneja
Ganhasse notoriedade
Duelando com a viola
A sanfona também chorava
E essa dupla de sucesso
Com harmonia se atrelava
Encontraram a diretriz
E o sertanejo de raiz
Nas paradas despontava
O cancioneiro ganhou destaque
Com Alvarenga e Ranchinho
Com Tonico e com Tinoco
Com Jararaca e Ratinho
Com as vozes bem encontradas
Nas modas bem ponteadas
De Tião Carreiro e Pardinho
Com Pedro Bento e Zé da Estrada
A influência mexicana
A influência paraguaia
Com Cascatinha e Inhana
José Fortuna foi tão venturoso
E a grande Inezita Barroso
Majestosa e soberana
Com Teddy Vieira e Goiá
O melhor da música caipira
“Saudade de Minha Terra”
Moda campeira que inspira!
Raul Torres e as lindas toadas
João Pacífico e as modas declamadas
Liu e Léo ritmando a catira
Muitos nomes pitorescos
Emparelhados e parecidos
Alguns até esquisitos
Outros muito divertidos
Combinar era o intento
E a criatividade e o talento
Eram os dotes exigidos
Tinha Atleta e Treinador
Tubarão e Seresteiro
Zé Tapera e Teodoro
Com Sulino e Marrueiro
Tinha Silveira e Silveirinha
Tinha Vieira e Vieirinha
E tinha Caçula e Marinheiro
Era bela a cantoria
De Canário e Passarinho
Tinha Cacique e Pajé
João Mulato e Douradinho
Duo Ciriema e Duo Glacial
Duplas ótimas por sinal
Além de Craveiro e Cravinho
Gino e Geno e Zilo e Zalo
Com Jacó e Jacozinho
Solevante e Soleny
Zé Carreiro e Carreirinho
Industrial e Fazendeiro
Monetário e Financeiro
E Moreno e Moreninho
Tinha Lourenço e Lourival
Dino Franco e Mourai
Tinha Praião e Prainha
Com Belmonte e Amarai
E Tibagi e Miltinho
Léo Canhoto e Robertinho
E Mococa e Moraci
Tinha Kleyton e Christiane
As Marcianas e o Marciano
Chico Rey e Paraná
Carlos César e Cristiano
Peão Carreiro e Praense
Goiano e Paranaense
Zé Mulato e Cassiano
As famosas Irmãs Galvão
A dupla Roberto e Meirinho
As grandes Irmãs Barbosa
Pena Branca e Xavantinho
Tinha Juliano e Jardel
Valderi e Mizael
E também César e Paulinho
Irídio e Irineu
Formaram um perfeito par
Como Teodoro e Sampaio
E a dupla Gilberto e Gilmar
Muita gente ainda é fã
Da dupla Duduca e Dalvan
E da incrível Nalva Aguiar
A inspiração caipira
Que é tão pura e original
Está no voo da “Asa Branca”
E a branca “Flor do Cafezal”
Também está num “Amor Distante
No som de um “Triste Berrante”
Na “Chalana” e no Pantanal
Está na história da “Mula Preta”
E na saga do Chico Mineiro
Na longa “Estrada da Vida”
E no recado do “Caminheiro”
Na “Poeira” vermelha do chão
No lindo “Luar do Sertão”
Ou no “Vai e Vem do Carreiro”
Dentre as “Obras de Poeta”
A “Majestade, O Sabiá”
A água que cai na fonte
Fazendo chuá chuá
O "Murmurar da Cachoeira”
Que deságua na pedreira
E “As voltas Que o Mundo Dá”
A bela “Cabocla Tereza”
É a inspiração da toada
Que descreve um´ “ Desatino”
“Vide Vida Marvada”!
Um Caboclo “Amargurado”
Que sofrendo desesperado
Tira a vida de sua amada
O voo da “Pombinha Branca”
Virou um lindo refrão
“As Andorinhas” voltando
Os chifres do Boi Tufão”
“A Gaivota” traiçoeira
E a “Garça Branca Feiticeira”
Serviram de inspiração
Era à noite e nas madrugadas
Que Zé Béttio executava
Aquele repertório do campo
Que a cidade discriminava
Tinha a dupla Abel e Caim
O talentoso Rolando Boldrin
No cenário também ponteava
Teixeirinha cantou o Sul
Gonzagão cantou o Nordeste
Com Os Filhos de Goiás
A riqueza do Centro-Oeste
O grande Trio Parada Dura
É um ícone da cultura
E um patrimônio do Sudeste
Donizeti revelou-se
Entoando a “Galopeira”
E Sérgio Reis virou caipira
Com o “O Menino da Porteira”
A canção que o consagrou
No estilo o projetou
Sendo um marco em sua carreira
Léo Canhoto e Robertinho
Têm história a destacar
Com um repertório excêntrico
E guitarras para acompanhar
Introduziram os elementos
E os ousados instrumentos
Que vieram modernizar
Milionário e José Rico
Viveram tempos de glória
Athaíde e Alexandre
Têm brilhante trajetória
Com Chitãozinho e Xororó
O “cabelo no paletó”
É o início da nova história
O sertanejo romântico
Logo chamou a atenção
Ganhou espaço no rádio
E se encontrou na televisão
Duplas foram aparecendo
E muitos nomes crescendo
Ganhando repercussão
O termo caipira
Já não era mais tão usado
Pois o termo sertanejo
Parecia mais adequado
Para romper preconceitos
E ganhar novos conceitos
No mercado modernizado
Veio a influência cowntry
Nas calças muito ajustadas
Nas camisas cheias de franjas
Das marcas mais renomadas
Nos chapéus e cintos de couro
Nas fivelas de prata e ouro
E nas botas incrementadas
Nas letras das canções
Não falavam mais de carreiros
Das coisas simples da roça
E nas sagas dos boiadeiros
Inspiravam os compositores
Os amores com dissabores
E aventuras de caminhoneiros
Alguns clássicos caipiras
Ganharam regravações
E tendo novos arranjos
Viraram lindas versões
Conquistando a mocidade
Exigente da cidade
Rendendo muitos milhões
Com Matogrosso e Mathias
Uma sublime combinação
No dueto de Chrystian e Ralf
A excelência na afinação
Vozes tão bem trabalhadas
Justapostas ou alternadas
Em um show de interpretação
Numa nova e boa safra
Tinha Felipe e Falcão
A grande Roberta Miranda
A encantadora Fátima Leão
E Moacir Franco e Darci Rossi
Compositores que detêm posse
De uma riquíssima seleção
Tinha Leandro e Leonardo
João Mineiro e Marciano
A dupla Gian e Giovani
Zezé de Camargo e Luciano
Tinha João Paulo e Daniel
E alguns deles já estão no céu
Estrelando num novo plano
A voz de Sula Miranda
Logo chamou a atenção
Ganhou título de rainha
Ao dedicar uma canção
Ao “Viajante Solitário”
Que carrega seu rosário
No painel do caminhão
O “Mais Fraco Coração”
Achou uma “Estrada Sem Saída”
Com suas “Crises de Amor”
E uma “Vontade Dividida”
Revelou em “Confidências”
As mais claras “ Evidências”
De que “Amores São Coisas da Vida”
Uma grande “Nuvem de Lágrimas”
Carregada de emoção
Trouxe um “Temporal de Amor”
E o “Frio da Solidão”
Deixando o “Leão Domado”
“Sessenta Dias Apaixonado”
Com um “Coração na Contramão”
Uns queriam “Amor Rebelde”
E "24 horas de amor"
Outros pediram “Paz na Cama”
E um romance avassalador
A “Boate Azul” consolou
Quem por amor se entregou
Bebendo com saudade e dor
“São Tantas Coisas”
Para a gente relembrar
Que “Ainda Ontem Chorei de Saudade”
“Que Pena” tudo mudar!
Perdemos bons compositores
E alguns maravilhosos cantores
Já deixaram de gravar
Donizete, “Onde Andará”?
Que saudade do Falcão!
Robson partiu tão cedo!
Ney e Nando onde andarão”?
Cadê Durval e Davi?
E João Renes e Reny?
Renê e Ronaldo onde estão?
“O Destino Nos Separou”
Da dupla Alan e Aladim
Segundo a velha canção
“Todos Têm o Mesmo Fim”!
Com uma saudade latente
A gente vai “Tocando Em Frente”
Na vida “Somos Assim”
Tantas duplas de renome
Que nem dá para enumerar!
Na busca pelo sucesso
Acharam de inventar
O que está em evidência
E que já está perdendo a essência
De tanto se misturar
Não se pode generalizar
Pois toda regra tem exceção
César Menotti e Fabiano
Ainda tocam no coração
Rick Solo é uma referência
Michel Teló tem a essência
Vitor e Léo merecem atenção
Aplausos a Bruno e Marrone
Sertanejos de verdade
E aos que preservam as raízes
E mantêm a qualidade
O folclore agradece
Pois nossa cultura padece
Perdendo sua identidade.
Por: Márcia Haidê
Caetité - Ba
Em - Junho de 2017