RECANTO CAIPIRA

Este causo que agora conto,

deixá-los de escrever não podia,

pois faz parte da nossa historia,

de como o sertão foi um dia.

Hoje envolvidos pelo trabalho,

e dominados pela tecnologia,

o homem esquece de sua raízes,

seu passado, origem e sua etnia.

Pensando ser sabedores da verdade,

envolvidos com suas ideologias,

vivem num mundo de sonhos,

repletos da mais pura demagogia.

Levados pela onda da globalização,

do capitalismo que massacra e judia,

preferem os ensinamentos de fora,

o jeito estrangeiro tem mais valia.

Na correria dos tempos modernos,

vão levando o seu dia a dia,

presos e seus próprios castelos,

pensam viver na aristocracia.

Alguns chegam a se proclamar,

como defensores da ecologia,

mas afirmam que o jeito caipira,

e uma derrota para a economia.

Não quero ser um sabichão,

muito menos ser divergente,

no meu jeito de ver o mundo,

as coisas são bem diferente.

Vejo que o estudo de hoje em dia,

deixaram o homem mais exigente,

renegam o jeito do caboclo,

de cultura simples e transparente.

Vejo que o tempo que se foi

num passado não tão distante,

o sertanejo desempenhou seu papel

e nos deixou ensinamento importante.

Que pelo homem moderno,

é descartado, coisas insignificantes.

Embora haja sertanejo que viva,

da maneira que viviam d’antes

E neste homem sabido de hoje

o que mais me espanta e me admira,

é que quando se fala do homem roça,

vão logo pensando no matuto caipira.

Não dão valor ao que é do povo,

tradição deles nada lhes inspira,

e na contante busca do novo,

vivem na mais pura mentira.

O homem dos dias de hoje,

tem estudo e tem instrução,

já o caboclo tem sabedoria,

a natureza lhe dá formação.

Vivendo com parcos recursos,

e dando valor no seu rincão,

cantando as sagas da terra,

transformando-as em canção

“Eu nasci naquela serra,

num ranchinho a beira chão

todo cheio de buraco,

donde a lua faz clarão.”

Assim cantava o poeta,

e estava cheio de razão

este eram os modos de vida

do homem lá do sertão.

Era homem vivendo do campo,

sempre atrelado a sua tradição

cuidando com amor e carinho,

e se dedicando à sua missão.

Sem ter nenhuma mordomia,

vai cuidando de sua plantação,

trabalhando de sol a sol,

para dar uma boa produção.

Não tinha trator para arar a terra

nem pra transporte, caminhão.

Era cavalos ou junta de bois,

que puxava o arado ou carretão.

O preparo do roçado era feito,

com a foice, machado ou facão.

Ateavam fogo e faziam descoivara,

com a chegada da chuva, a plantação.

Uma casinha coberta de sapé,

com argila do brejo barroteada,

pra um perfeito acabamento,

com terra vermelha era barrada.

O piso era de terra batida

e só bastava umas vassourada,

tudo ficava bem limpinho

e a casa estava toda arrumada

Não tinham nenhuma mobília,

as coisas eram improvisada,

mas acomodava bem a família

e ate alguma visita inesperada.

O que tinha era muito simples,

cadeira com taboa trançada

e bancos de madeira maciça,

pra acomodar a garotada.

Na cozinha não tinha geladeira,

pois energia elétrica não existia.

Na mesa improvisada com tabua,

ficava o pote com água fria.

Esquentavam num balde a água,

pra tomar banho de bacia,

usavam o sabão de cinza

pra deixar a pele limpa e macia.

Uma lamparina com querosene,

servia para clarear a escuridão.

Não precisavam comprar gás,

não tinha esta preocupação,

cozinhavam num fogão de lenha,

produto abundante no sertão,

e o ferro de passar roupas,

se aquecia com a brasa do fogão

A cama de taipa se fazia,

com paus fincados no chão

o estrado eram feito de varas,

que com cipo fazia a amarração.

Palhas de milho secas e rasgadas

eram o enchimento do colchão,

as roupas de passeio ou trabalho,

tinham por cômoda um caixão.

Para lavas as suas roupas,

não contavam com lavanderia,

iam logo cedo para aguada,

onde ensaboavam e fervia

se estivessem muito suja,

numa tabua ainda batia,

e só depois de bem limpas,

pra secar, no varal estendia

A sala também não tinha luxo,

não tinha sofá e nem televisão,

em radio receptor tocado a pilha,

ouviam modas e alguma informação.

As vezes um quadro da santa ceia,

sinal da religiosidade do sertão,

outro moldava o retrato da família,

ou algum santo de devoção

Uma mesa e quatro cadeiras,

eram os moveis de quem podia.

Na sala, na parede dependurada,

a velha espingarda rabo de cutia.

Do mais tudo era muito simples,

sem rapapés e sem soberbia,

porem com tamanha singeleza,

com a criação em harmonia.

Nos arredores do dito casebre

a privada, o poço e o pomar;

o paiol com paredes de coqueiro,

lugar para as colheitas guardar.

Nestas paredes, bem amarrados

os ninhos pras galinhas botar,

e num puxadinho ao lado,

as ferramentas pra trabalhar.

Alguns tinha vaca leiteira

e um curral rustico para ordenhar.

Numa tabua lá na cozinha,

punha os queijos para curar.

No chiqueiro de pau a pique,

alguns porquinhos pra cevar,

de onde tiravam a gordura,

para os alimentos preparar.

Os gastos eram pequenos,

o roça dava tudo o que carecia.

No fogão de lenha sempre acesso

os alimentos se aquecia.

Para conservar o leite da vaca,

numa panela de ferro fervia.

Não tinham grandes recursos,

mas era assim que se vivia.

Do trabalho, as vezes aduo,

tiravam um tempinho pra pescar.

Tinham suas roupas de festa,

para os domingos passear.

Iam a vendinha, ao baile e a capela,

nos domingos de mês, pra rezar

e não faltava comida na mesa

e nem cama para repousar.

A rusticidade era tão grande

fica até difícil de contar,

pra quem nuca viveu isso,

e difícil ate de imaginar.

Era um mundo de ilusões,

pode alguém hoje pensar,

mas este era o recanto caipira,

sem por e nem tirar.

Maciel de Lima
Enviado por Maciel de Lima em 24/07/2017
Reeditado em 24/07/2017
Código do texto: T6063917
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