A curva do tempo
Onde o tempo faz a curva
Mora um gigante armado
Numa mão um cão que uiva
Noutra um cavalo alado
Tem a cabeleira ruiva
Um olhar bastante irado.
Está fora de controle
Não conhece o seu limite
Por estar em descontrole
Conversar nunca permite
E se vendo em desconsolo
Jamais aceita um convite.
Pensa ser alguém decente
Não precisa de doutor
Quando pensa em ir à frente
Logo pensa sentir dor
De tão preso ao seu presente
É pra si enganador.
Nunca viu o seu passado
Só conhece o seu presente
Nunca foi aconselhado
Sempre desobediente
Se sentir ameaçado
Torna-se inconveniente.
Desconhece o que é sossego
Está sempre em movimento
Nunca soube o que é apego
Seu viver é o momento
Não conhece um aconchego
Tampouco divertimento.
Seu trabalho é tomar conta
Do passado de um ateu
Cujas faltas são sem conta
Ter amor não aprendeu
O perfeito ele desmonta
Pensa que tudo é seu.
Já percebe que a ciência
Deu alguns passos adiante
Percebeu que a inocência
Ante Deus é importante
Sabe que a persistência
Faz o sol ser mais brilhante.
Mesmo sendo impaciente
O gigante tem futuro
Se agir impunemente
Não sairá do escuro
Hoje age livremente
Mas está demais impuro.
O presente que ele vive
É um peso em demasia
Sua estrada tem aclive
Mas será plana um dia
Apesar de estar livre
Vive em desarmonia.
Seu passado é obscuro
Nele fala muito pouco
Talvez tenha sido impuro
Ou viveu com algum louco
Ninguém sabe se foi duro
Ou se apenas deu o troco.
Seu futuro ele não nota
Está preso ao atual
Sente medo da derrota
Acha que lhe querem mal
Pensa que a sua cota
De sofrer é a principal.
Um dia vai permitir
Que alguém se aproxime
Esse dia há de vir
Pra mostrar qual o seu crime
E assim se redimir
Daquilo que lhe oprime.
Nada vai adiantar
Só falar, nada fazer,
Vou tentar aproximar
Demonstrando ter prazer
Nada tenho para dar
Pois nada pude trazer.
Vou andando devagar
Desviando do entulho
Par não o irritar
Não posso fazer barulho
Se alguém quer perguntar
O gigante é o orgulho.