O pé do vento.

Segurei no pé do vento

Pra chegar ao infinito

Não soltei nenhum lamento

Um reclame ou sequer grito

Mas chegou o meu momento

De ler o que foi escrito.

O papel estava em branco

Quando tudo começou

Não tinha dinheiro em banco

Também nada alguém cobrou

Não tinha sequer tamanco

Mas de mim ninguém tirou.

Ouvi o falar da chuva

Que dizia me ouvir

Escorria em água turva

Mas podia dividir

Minha caminhada curva

Que eu tinha de cumprir.

Eu falei pra essa chuva

Que o tempo me espera

Ele age como a luva

Que semeia e colhe a hera

E também madura a uva

Que no vinho se esmera.

Disse a chuva ao responder

Que eu sou muito teimoso

O que tenho vou perder

Porque seu ambicioso

Todo o meu mau proceder

Em exponho em tom jocoso.

Eu falei que sou nervoso

E talvez pouco educado

Mas não sou licencioso

E não faço nada errado

Se eu falo em tom jocoso

Sou talvez despreparado.

Minha vez nessa conversa

Acabou sem eu querer

A chuva ficou dispersa

Não iria mais chover

Minha voz ficou imersa

Numa gota de esquecer.

Escutei o som da chuva

Se afastando devagar

Como uma mulher viúva

Caminhava a divagar

Com inveja da saúva

Que estava a trabalhar.

Então vi um lampião

Espargindo a sua luz

Sem qualquer objeção

Mesmo eu não fazendo jus

Esquecendo a solidão

Clareava a minha cruz.

Nessa luz do lampião

Vi a sombra do destino

Vi um mar de ingratidão

Vi instinto assassino

Vi carência de razão

Castigar o bom menino.

Vi a sombra do desejo

Procurando o que pegar

Não temia o relampejo

Que iria iluminar

O pequeno vilarejo

Onde a luz ia chegar.

Vi a sombra desolada

Por não ter como evitar

O seu fim com a chegada

Da luz que iria entrar

Na casa mal assombrada

Que deu fama ao lugar.

Veio outro pé de vento

Pra trazer a alegria

Trouxe em si divertimento

Muita lenda e fantasia

Era esse o meu momento

Pra fazer o que eu queria.

Eu subi em um palanque

Perguntei pra meninada

Vocês querem que eu arranque

Toda planta ressecada

Ou preferem que eu banque

Um jantar de feijoada.

A festa foi divertida

Porque feita de improviso

A comida repartida

Em cada prato um sorriso

Em cada olhar uma vida

Que mostrava o paraíso.

Foi a festa mais alegre

Que eu vi na minha vida

Hoje sei que se consegue

Descrever tamanha lida

Mas uma coisa me segue

Desde o dia da partida.

Essa coisa inexplicável

Que não é frio ou calor

Totalmente imponderável

Tão bonito como a flor

Penso até que é razoável

Dizer que isso é o amor.

Renato Lima
Enviado por Renato Lima em 06/01/2017
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