Vida sem sentido.

Tão distante de alguém

Eu me sinto abandonado

Esperando quem não vem

Passo o tempo sentado

Precisando ir mais além

Eu aguardo o resultado.

Eu fico sempre aguardando

O momento de falar

Quase sempre esperando

Alguém poder me escutar

Se eu fico entediando

É somente por amar.

Não espero ser amado

Eu sou inconveniente

Desprezei o meu passado

Vivo o presente somente

Mas não sou pobre coitado

Tenho a vida de presente.

Tenho o sol pra dar calor

A lua por namorada

Um lençol por cobertor

Uma cama já quebrada

Alimento sem sabor

E direito a falar nada.

Sou um sério candidato

A morrer de fome e frio

Tenho o coração cansado

Mas na morte eu não confio

Tenho o peito calejado

De orar, mas desconfio.

Desço a ladeira andando

Pra buscar tranquilidade

Logo vem alguém falando

Que é a senilidade

E o que estou falando

É pura imbecilidade.

Estou velho e incapaz

Não consigo mais vencer

Hoje sou quem nada faz

Nada mais posso querer

Vou pedir quem vem atrás

Pra me ajudar morrer.

Nunca provoquei a morte

Mas cansei da agonia

Quando novo eu era forte

Lutei muito dia a dia

Amansei muito garrote

Pra fazê-lo boi de guia.

Amansei muito jumento

Pra fazê-lo carregar

Água do rio barrento

E palma pra colocar

A secar por algum tempo

E por comida trocar.

Amansava boi de carro

Sem fazer estardalhaço

Fazia telha de barro

Mesmo com muito cansaço

Também tijolo de barro

Tudo virado no braço.

Esperava o sol nascer

No local do meu trabalho

Sem por isso eu receber

Nem um dia de salário

Nesse meu longo viver

Nunca procurei atalho.

No dia que visitei

O meu sogro, ele falou:

Você é pobre, eu sei,

E que sempre trabalhou

Mas a filha que eu criei

Você não alimentou.

Você não tem mais família

É agora um caminhante

Vá seguir a sua trilha

Naquela estrada adiante

Eu cuido da minha filha

E você fique distante.

Eu fiquei amargurado

O meu sogro não sabia

Que eu era apaixonado

E não acreditaria

Que eu estava preparado

Pra dar o que ela queria.

Fui então escorraçado

Sem direito de defesa

Apesar de humilhado

Ainda sentei à mesa

Onde fui aconselhado

A manter a língua presa.

Só depois de muito tempo

A verdade apareceu

Eu guardei no pensamento

Tudo que aconteceu

E mantive o juramento

De doar o que era meu.

Doei tudo que eu tinha

Pra minha mulher amada

Ela que foi minha um dia

E de mim foi afastada

Ela tem o que eu daria

Do pai não recebeu nada.

Hoje sigo o meu destino

Rumo ao fim da caminhada

Guardando o meu desatino

Numa alma atormentada

Sem família, lar e ensino

Acho que lutei por nada.

Renato Lima
Enviado por Renato Lima em 10/12/2016
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