Juízo de valor.
Na fogueira da ilusão
Muitas almas se queimaram
Cada qual na solidão
Que pra si mesmo buscaram
Amparadas na ilusão
Que na vida encontraram.
Sentimento animalesco
Sempre foi acalentado
Como se fosse o ar fresco
Do rio encachoeirado
Ou então um raro afresco
Muito bem aureolado.
Do limite da vergonha
Expulsaram a retidão
À criança mais bisonha
Prometeram educação
E pra simular barganha
Deram pau em vez de pão.
Ao vilão foi permitido
Adentrar no ministério
Ao justo foi proibido
Se juntar ao homem sério
Ao povo desiludido
Deram falta de critério.
Justo la nunca tem vez
É um balcão de negócio
O Poder chama o freguês
Pra poder viver no ócio
Quanto mais estupidez
Melhor pra fazer um sócio.
As palavras mais estranhas
Ditas por detrás das portas
Vão mostrar as artimanhas
Pra poder mudar as rotas
Nesse rio de piranha
Jacaré nada de costas.
Nesse palco de aventura
Malandragem se destaca
Pouco vale ter cultura
Vale mais quem desacata
Pra manter essa estrutura
A moral virou sucata.
O amargo fica doce
O salgado fica insosso
Melhor que assim não fosse
Mas adoram um alvoroço
Pra ganhar o que não trouxe
A lei do menor esforço.
O soldado cumpre a lei
Sem saber de onde vem
O juiz que provoquei
Disso sabe muito bem
Mas também dele escutei
Que ser povo é ser ninguém.
O palácio é protegido
Pra manter a ilusão
Que entrar é proibido
Não quer aproximação
Dentro dele, no escondido,
Desnudam a população.
O salário é aumentado
Em miséria pra o povo
Para alguns despreparados
Com gravata no pescoço
Dão salários avantajados
Disfarçado em vale almoço.
Algodão não é tecido
Linho está for de moda
O terno está embutido
Na importação da roda
O imposto é esquecido
O cifrão apaga a nódoa.
Homens há muito sagazes
Que entraram na fuzarca
Usam os seus capatazes
Pra criar a logomarca
Em geral são incapazes
De criar a própria marca.
Nessa chama de ilusão
O Poder é crucial
Se houver uma exceção
Ela é agente do mal
Vai sofrer perseguição
Vai morrer num hospital.
Pode haver contradição
Pra fazer maior barulho
É só apresentação
Para ocultar o esbulho
Na melhor ocasião
Põe o povo no embrulho.
Não há virgem imaculada
Nem senhor rei dos judeus
A moeda desejada
É ser como os fariseus
Ter a força respeitada
E Poder só para os seus.
Este é o pensamento
De mais um trabalhador
Caído no esquecimento
Sem colchão, sem cobertor,
Sem trabalho e alimento
Esqueceu o que é valor.