Perguntas ao passarinho

Perguntei ao passarinho

O porquê do seu cantar

Já que vive tão sozinho

Sem ninguém para encantar

Ele respondeu que o vinho

Só melhora no lagar.

Perguntei ao operário

Qual a sua profissão

Ele disse que o salário

Faz a sua direção

E no seu livro diário

Nunca há compensação.

Cada coisa que eu doava

Vinha de volta pra mim

Cada uma que voltava

Eu a descrevia assim

Essa é a que faltava

Mas agora está do fim.

Percebi em um momento

Que o sol emoldurava

Uma parte como o vento

Quase nunca se afastava

Ia lá onde o tormento

Com a dor digladiava.

Eu tentei aproximar

Dei um passo no infinito

Era longo o caminhar

Não havia percebido

Mas o sol veio ajudar

E eu fiz o escolhido.

Escrevi um testamento

Numa folha de capim

Que busquei no firmamento

Num lugar que não tem fim

Completei meu juramento

De jamais fugir de mim.

Anotei no testamento

O que tinha pra doar

Incluí o alimento

Que havia de plantar

Fiz um jarro de cimento

Para ter onde guardar.

Fiz do meu tempo presente

Um cordel de ilusão

Encontrei ateu e crente

Numa mesma oração

Cada um pra sua gente

Prometendo salvação.

Anotei no meu passado

O que eu tinha no futuro

Percebi que o passo dado

Era no caminho escuro

Mas o que a mim foi dado

Vou pagar até com juro.

Fiz o meu redemoinho

Esperando o resultado

Espantei o passarinho

Que me disse ter cantado

Mas de tanto andar sozinho

Não chegou ao outro lado.

Fiz assim um paralelo

Sobre o bom e o ruim

Encontrei ouro amarelo

Em um banco do jardim

Flor com cor de caramelo

Foi o que sobrou pra mim.

Renato Lima
Enviado por Renato Lima em 15/10/2016
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