A benzedeira.
Este texto é uma singela homenagem que presto às inúmeras benzedeiras e benzedores dispersos pelo país e quase sempre esquecidos. A todas o meu respeito.
A benzedeira.
Minhas mãos são argumentos
Pra servir ao Criador
São também meus instrumentos
Pra poder curar a dor
Guardam puros sentimentos
Como prova de amor.
Jamais servem para o mal
São por isso respeitadas
Curam o manso animal
Com partes dilaceradas
Também curam o forte mal
Que se alia às mal amadas.
Não seguiram para a guerra
Porque só semeiam paz
Utilizam o pó da terra
Porque dele sempre traz
Um raminho que encerra
O poder que só bem faz.
Por favor, não me atormente,
Sou mais simples servidora
Que planta a sua semente
Mas não é aduladora
Quer apenas simplesmente
Ser auxílio pra doutora.
Minha fé hoje, contudo,
Levo aonde me chamar
Não consigo fazer tudo
Mas não vou desanimar
Meu trabalho sem estudo
Muito tem a ensinar.
Sou apenas benzedeira
Mas não sou desocupada
Passo uma semana inteira
Preparando a garrafada
Pra depois dar à primeira
Que estiver mais constipada.
Sou assim auxiliar
Do mais simples servidor
Que no seu pouco falar
Ensinou o que é amor
E também sabia dar
Provas do seu grande amor.
Meu falar e meu pensar
Não me levam ao infinito
Posso ao menos desejar
Abafar esse meu grito
Que está pra revelar
O meu amor irrestrito.
Não me faço de rogada
Sou parte dos instrumentos
Que o Pai fez desejada
Nos momentos de tormentos
Mas não fico angustiada
Esperando esses momentos.
Meu passeio é pela estrada
Onde encontro caminhantes
Muitos deles sem ter nada
Porque não guardaram antes
Todos seguem a caminhada
Por que sabem estar distantes.
Sou a velha benfazeja
Que curou aquele mal
Que tirou sua beleza
Pôs você no hospital
Que tirou sua tristeza
Que era espiritual.
Mas você se envergonha
De dizer que foi você
Que sofreu coisa medonha
Sem mesmo saber por quê
Hoje no seu leito sonha
Esperando o seu bebê.
Ele vai nascer um dia
Eu também lá estarei
Pra mostrar a galhardia
Dessa em que transformei
Mas também a covardia
Do valete sem seu rei.
Se foi um passado louco
O futuro é glorioso
Se na vida tenho pouco
Tenho mais que o fervoroso
Que grita ate ficar rouco
Pensa ser o poderoso.
Para que tanta ganância
Pro futuro não se leva
Correr muito sempre cansa
Não há luz onde há treva
Quem espera sempre alcança
A vida é muito longeva.
Tenho agora de partir
Para o meu labor sagrado
Não preciso repetir
Que não dou papel passado
O que faço é repartir
Tudo que a mim foi dado.