O último jantar.

Derrapei numa ladeira

Onde eu tinha de passar

Para ver a enfermeira

Que eu queria namorar

Mas sofri com a brincadeira

De quem viu eu levantar.

Eu sujei a minha calça

Minha camisa rasgou

Meu chapéu quebrou a alça

Meu sapato arrebentou

Eu não fui dançar a valsa

Pra qual ela convidou.

Eu fiquei desesperado

Por perder o meu amor

Não seria perdoado

Chamado de traidor

Apesar de desolado

Reprimi a minha dor.

Dei a ela o meu recado

Numa folha de papel

Disse que tinha falhado

Mas que não andara ao léu

Um tombo havia levado

E sofrido um escarcéu.

Ela respondeu sorrindo

Que também tinha falhado

Quando estava saindo

Viu o vestido rasgado

Perdão estava pedindo

Por não ter me informado.

Ela sorria de mim

Mas eu estava enganado

Pensei que estivesse assim

Com o meu burro amarrado

Mas eu não cheguei ao fim

Vejam como fui tratado.

Ela me viu rebuscado

Com um lenço no pescoço

Um relógio atrapalhado

Uma lanterna no bolso

Um sapato empoeirado

E fazendo um alvoroço.

Via em mim um pobretão

Que não seguia uma trilha

Viraria um ancião

Sem destino, um andarilho,

E sem ter ocupação

Não podia ter família.

E com esta explicação

Disse que não me queira

Eu seria a perdição

Pois sequer eu me vestia

A minha situação

Para ela não queria.

Descobri nesse momento

Que eu estava enganado

Todo o meu engajamento

Para mostrar o outro lado

Serviu como um julgamento

Para eu ser um condenado.

Depois disso eu desisti

Nada dela eu esperava

Quando então eu recebi

Bilhete que perguntava

Se acaso eu esqueci

De alguém que me amava.

Nisso eu não acreditei

Respondi dizendo assim

De você eu me livrei

Meu amor chegou ao fim

A você eu muito amei

Mas não mais estou a fim.

Ela disse vem pra mim

Eu preciso de você

Não seja tão mau assim

Se puder venha me ver

Minha mãe está no fim

Cuido dela até morrer.

Eu senti um calafrio

Esse alguém não conhecia

Ela tinha muito brio

Era tudo o que eu queria

Apesar de muito frio

Fui aonde ela dizia.

La eu tive uma surpresa

Deveras interessante

Sua mãe na cama presa

Deu um sorriso brilhante

Disse à filha: ponha a mesa

Vamos jantar neste instante.

Disse a mim: não se abstenha

De amar quem lhe amou

Seu amor nunca retenha

Distribua com ardor

Desejo que você tenha

Muita fé no Criador.

Depois disso ela jantou

Tomou sopa e levedura

Com a filha desculpou

Por lhe dar vida tão dura

Sua filha me entregou

Como a mulher mais pura.

E assim ela partiu

Para outra encarnação

Sequer a testa franziu

Pra minha admiração

Em mim algo sei que viu

Mas não tenho explicação.

Renato Lima
Enviado por Renato Lima em 29/05/2016
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