Tristeza de vfelho

A tristeza do ancião

É comum ser confundida

Com a falta de razão

Ou com falta de comida

Falam muito em gratidão

Mas tornam difícil a vida.

Não lhe dão sequer bom dia

Muito menos distração

Lhe tiraram a moradia

O direito à refeição

Lhe roubaram a alegria

Pra lhe oferecer caixão.

Seu almoço é bem regrado

Seu jantar uma bolacha

Seu café é requentado

Guarda a roupa numa caixa

Seu colchão está rasgado

Mas por ele para a taxa.

Seu olhar ficou vazio

Seu rosto sem expressão

Pouco resta do seu brio

Ninguém lhe presta atenção

Vive como algum gentio

Sequer tem opinião.

Seu olhar segue perdido

Na imensidão do céu

Seu falar é proibido

E não pode andar ao léu

Algo grande é percebido

Sabe que tem seu laurel.

Já perdeu a esperança

De um dia ter seu lar

Nada quer como vingança

E não quer incomodar

Pois até a sua andança

Alguém diz que vai cortar.

Sua casa foi tirada

Para abrigar o filho

Mantém a filha enganada

Repetindo o estribilho

Para mim não falta nada

Estou bem com o meu filho.

Sua vida é rotineira

Quase sempre sem motivo

Ouve a sua companheira

Dizer que ele é o motivo

Que está falando asneira

Do passado está cativo.

Sua voz está temida

E nas mãos falta a força

Sua boca está ferida

Pela neta que está moça

Seu passado é a saída

Pra sair da vida insossa.

Já não tem o seu salário

Tudo é pro supermercado

Está sempre solidário

Mas é mal alimentado

Vive sempre solitário

No seu canto, atormentado.

Seus amigos já morreram

Ou então são como ele

Alguns que sobreviveram

Sequer um se lembra dele

Alguns não reconheceram

Perguntaram quem é ele?

O seu passo está pequeno

Seu andar cambaleante

Já pensou tomar veneno

Disfarçado de purgante

Pra pegar um sol ameno

Tenta dar um passo adiante.

Vive sem ter companhia

Seu lugar ninguém frequenta

Ele esconde a agonia

Pensa que a tudo aguenta

Convive com a anarquia

Da família barulhenta.

Sempre diz no seu conselho

Briga não leva a nada

Melhor dobrar o joelho

Ou seguir em outra estrada

Se mirar no seu espelho

E mudar a caminhada.

Se alguém chama o ancião

Para ir a um passeio

Logo vão pregar sermão

E dizer não faça feio

Cumpra a sua obrigação

Traga a roupa com asseio.

Sabe que vai receber

Palavras de ojeriza

Assim mesmo vai querer

Conhecer o chão que pisa

Para nele perceber

Um pouco de sol e brisa.

Nos negócios da família

Nunca da opinião

Prefere ajudar a filha

Preparar a refeição

Sabe que a sua trilha

Está na consumação.

Assim vai sobrevivendo

No cantinho que lhe dão

Pouco a pouco vai morrendo

Vai parando o coração

Em silencio vai sofrendo

Sua resignação.

Renato Lima
Enviado por Renato Lima em 28/05/2016
Código do texto: T5649409
Classificação de conteúdo: seguro