Um homem.

Sou um antigo cancioneiro

Pouco sei sobre o rimar

Eu tentei ser violeiro

Mas nunca soube cantar

Nunca quis ser o primeiro

Sou o último a chegar.

Entretanto o que eu ganhei

À esposa eu entreguei

Os trocados que eu gastei

Foram coisas que eu comprei

Para os filhos que encantei

Com os versos que rimei.

À minha mulher eu amo

Dela sou merecedor

Para ela não sou amo

Reconheço o seu valor

Dos meus filhos não reclamo

Eles são frutos do amor.

Algumas flautas soprei

Sanfonas também toquei

Em alguns bailes dancei

Café amargo eu tomei

Alguma roupa eu rasguei

Nas cadeiras que sentei.

Consigo me entender

Vivo de modo decente

Sei ganhar e sei perder

Sei viver com meu parente

E se tenho o meu querer

Procuro ser coerente.

Quem espera sempre alcança

Esse é um ditado antigo

Quem duvida a fé balança

Essa verdade eu digo

E quem gosta de festança

Sempre perde algum amigo.

Através da minha andança

Encontrei pelos caminhos

Orgulho sem esperança

Todo cravado de espinhos

Vi também muita criança

Reclamando estar sozinho.

Mesmo sofrendo um bocado

Meu destino eu não lamento

Sou um homem muito amado

De amor não sou sedento

Por ter isso confessado

Alcancei o meu intento.

Tudo isso que eu falei

Resta pouco pra falar

No meu lar eu sou o rei

Nunca pude reclamar

Se tristeza eu enfrentei

Tenho comigo o meu par.

Sendo um mau pensador

Muito tempo eu meditei

Se havia algum valor

Naquilo que pratiquei

Concluí ser portador

Das alegrias que dei

Renato Lima
Enviado por Renato Lima em 01/05/2016
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