Um homem.
Sou um antigo cancioneiro
Pouco sei sobre o rimar
Eu tentei ser violeiro
Mas nunca soube cantar
Nunca quis ser o primeiro
Sou o último a chegar.
Entretanto o que eu ganhei
À esposa eu entreguei
Os trocados que eu gastei
Foram coisas que eu comprei
Para os filhos que encantei
Com os versos que rimei.
À minha mulher eu amo
Dela sou merecedor
Para ela não sou amo
Reconheço o seu valor
Dos meus filhos não reclamo
Eles são frutos do amor.
Algumas flautas soprei
Sanfonas também toquei
Em alguns bailes dancei
Café amargo eu tomei
Alguma roupa eu rasguei
Nas cadeiras que sentei.
Consigo me entender
Vivo de modo decente
Sei ganhar e sei perder
Sei viver com meu parente
E se tenho o meu querer
Procuro ser coerente.
Quem espera sempre alcança
Esse é um ditado antigo
Quem duvida a fé balança
Essa verdade eu digo
E quem gosta de festança
Sempre perde algum amigo.
Através da minha andança
Encontrei pelos caminhos
Orgulho sem esperança
Todo cravado de espinhos
Vi também muita criança
Reclamando estar sozinho.
Mesmo sofrendo um bocado
Meu destino eu não lamento
Sou um homem muito amado
De amor não sou sedento
Por ter isso confessado
Alcancei o meu intento.
Tudo isso que eu falei
Resta pouco pra falar
No meu lar eu sou o rei
Nunca pude reclamar
Se tristeza eu enfrentei
Tenho comigo o meu par.
Sendo um mau pensador
Muito tempo eu meditei
Se havia algum valor
Naquilo que pratiquei
Concluí ser portador
Das alegrias que dei