O inconfidente
Eu fui um inconfidente
Conheci algum segredo
Fui marcado a ferro quente
Porque nunca tive medo
Passei por maledicente
Mas não cedi nem um dedo.
Nada valia ser livre
Vivendo a ansiedade
Na prisão onde eu estive
Encontrei facilidade
Pois ali não me contive
E preguei a liberdade.
Fui traído, ouso afirmar,
Virei um presidiário
O que fiz foi só pensar
Que imposto é o salário
Do império, que ao gastar,
Cai no conto do vigário.
La na cela da masmorra
Encontrei só desenganos
Conheci um tripa-forra
Que viveu por muitos anos
Fazendo uma grande zorra
Pra transporte de maganos.
Ali converti rapazes
Que queriam só viver
Convenci os capatazes
Nas mulheres não bater
Consegui fazer as pazes
Com quem ia me prender.
Nunca fui um traidor
Sempre amei o meu país
Respeitei o imperador
Também a imperatriz
Combati o atravessador
Que explorava o meu país.
Sempre fui trabalhador
Conheci o que é fadiga
Não fui caluniador
Também não fugi da briga
Para ser bom servidor
Respeitei a lei antiga.
Muitas vezes reclamei
Do imposto colocado
Na obra que comandei
Mesmo sendo criticado
Mas aquilo que falei
Fez de mim um condenado.
Reconheço que falhei
Não devia ser assim
Tudo aquilo que falei
Não foi feito só por mim
Minha vida encomendei
Pois sabia ser o fim.
Eu também fui combatido
Por ter minha opinião
Fui, porém, leal amigo
Mesmo preso no porão
Para lá ser abatido
Sob golpes de facão.
Não morri, fiquei bem vivo,
Nisso podem acreditar
Não foi registrado em livro
Era próprio do lugar
Entretanto eu fui ativo
Para um morto imitar.
Apesar de tudo isso
Nunca desejei vingança
Cumpri bem o meu serviço
Pratiquei a tolerância
Residindo em um cortiço
Combati a ignorância.
Posso hoje confessar
Que apesar de inconfidente
Demonstrei que o amar
É a coisa mais prudente
Para quem quer governar
E ver o povo contente.
Esta foi a minha história
Mas meu tempo já passou
Guardei tudo na memória
Pois a mente melhorou
No final cantei vitória
Pois o meu grito ecoou