A agulha perdida

Sou uma agulha perdida

Nos entulhos da ilusão

Por muitos eu sou vendida

Para pregar um botão

Por outros sou escolhida

Pra fazer vacinação.

Eu também aponto o Norte

Um dos pontos cardeais

Na farmácia eu fecho o corte

Mas não saio nos jornais

Faço a roupa pro esporte

E costuro os animais.

Levo a linha e o barbante

Ao lugar que a roupa rasga

Costureira me garante

E comigo tem a para

Se me escondo um só instante

A costura se estraga.

Eu também espeto o dedo

Faço o sangue derramar

Ponho um pouco de medo

Para assim me respeitar

Mas também começo cedo

Sua roupa costurar.

Não desfaça da agulha

Ela é a ferramenta

Que jamais solta fagulha

Quando no fogo se esquenta

Se o sentimento debulha

É porque já não agüenta.

Sua obra é esquecida

Serve só pra passar linha

De alguns salva a vida

Quando a morte se avizinha

Apesar de aguerrida

É só uma empregadinha.

Nunca entra num palheiro

Se o fizer nao a encontram

Se estiver no travesseiro

Bom será que a encontrem

Se na roupa, a lavadeira,

Vai pensar que não a contam.

Também é a companheira

Que assegura o paramento

Para aquela costureira

Que aproveita o seu momento

Pra servir a fazendeira

E ganhar o seu sustento.

Não é só a costureira

Que a agulha auxilia

Ela ajuda a bordadeira

Que costurar não sabia

E ajuda a benzedeira

Quando o doente benzia.

Veja bem que a agulha

Não é nada desprezível

Ela não fica na tulha

Onde está o comestível

Se a ela não se adula

Ela é insubstituível.

Posso até dizer que ela

É de aço temperado

Muitos põem a culpa nela

Por algum dedo inflamado

Entretanto ela é aquela

Que costura o véu rasgado.

Finalmente eu vou dizer

Que a agulha é companheira

Ela sabe o que fazer

Mesmo não sendo a primeira

Sabe que pra bem coser

Precisa da costureira.

Renato Lima
Enviado por Renato Lima em 23/01/2016
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