A agulha perdida
Sou uma agulha perdida
Nos entulhos da ilusão
Por muitos eu sou vendida
Para pregar um botão
Por outros sou escolhida
Pra fazer vacinação.
Eu também aponto o Norte
Um dos pontos cardeais
Na farmácia eu fecho o corte
Mas não saio nos jornais
Faço a roupa pro esporte
E costuro os animais.
Levo a linha e o barbante
Ao lugar que a roupa rasga
Costureira me garante
E comigo tem a para
Se me escondo um só instante
A costura se estraga.
Eu também espeto o dedo
Faço o sangue derramar
Ponho um pouco de medo
Para assim me respeitar
Mas também começo cedo
Sua roupa costurar.
Não desfaça da agulha
Ela é a ferramenta
Que jamais solta fagulha
Quando no fogo se esquenta
Se o sentimento debulha
É porque já não agüenta.
Sua obra é esquecida
Serve só pra passar linha
De alguns salva a vida
Quando a morte se avizinha
Apesar de aguerrida
É só uma empregadinha.
Nunca entra num palheiro
Se o fizer nao a encontram
Se estiver no travesseiro
Bom será que a encontrem
Se na roupa, a lavadeira,
Vai pensar que não a contam.
Também é a companheira
Que assegura o paramento
Para aquela costureira
Que aproveita o seu momento
Pra servir a fazendeira
E ganhar o seu sustento.
Não é só a costureira
Que a agulha auxilia
Ela ajuda a bordadeira
Que costurar não sabia
E ajuda a benzedeira
Quando o doente benzia.
Veja bem que a agulha
Não é nada desprezível
Ela não fica na tulha
Onde está o comestível
Se a ela não se adula
Ela é insubstituível.
Posso até dizer que ela
É de aço temperado
Muitos põem a culpa nela
Por algum dedo inflamado
Entretanto ela é aquela
Que costura o véu rasgado.
Finalmente eu vou dizer
Que a agulha é companheira
Ela sabe o que fazer
Mesmo não sendo a primeira
Sabe que pra bem coser
Precisa da costureira.