Frei Dimão em perorações (101)

Eu combato a perdição

acendendo a espermacete,

dando cabo à escuridão,

livro toda facurete

Àquele vate já adverti

de todo risco que advém

e na ocasião me vali

pra lhe dizer: feche o Harém

Essa vida devassada

ante meu espírito santo

é loucura acumulada

que só arruína o Recanto

Musas chegam a corar

diante da libertinagem

e o que posso fazer é orar

pra por fim à sacranagem

Bebi das águas do Jordão

para me purificar

E foi por lá que vi Adão

deixar seu ganso afogar

Pro licor de Ene Ribeiro

aconselho ir com cautela

ele agrada a goiano e a mineiro

mas só leva ao rela-rela

As batinas esgarçadas

chegam a me dar preguiça

andam mal aparelhadas

e me deixam omisso à missa

Mandei-as para Araçatuba

para u´a completa cerzida

mas tendo ido para Cuba

a cerzideira tá noutra vida

Na cidade do Divino

a bênção fui receber

mas sem lá ver Dom Belvino

Nanda fez-me ver pra crer

A santa ceia deste ano

será recheada a caju

que embora fruto profano

mordê-la-á a pia Kathmandu

O namoro de portão

continua por mim proibido

pois leva a mais turbação

e à cupidez de Cupido

De cajado em prontidão

para apascentar ovelhas

que, rebeldes levam puxão

que lhes arranca as orelhas

Paulo Miranda
Enviado por Paulo Miranda em 13/01/2016
Reeditado em 13/01/2016
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