Frei Dimão em perorações (101)
Eu combato a perdição
acendendo a espermacete,
dando cabo à escuridão,
livro toda facurete
Àquele vate já adverti
de todo risco que advém
e na ocasião me vali
pra lhe dizer: feche o Harém
Essa vida devassada
ante meu espírito santo
é loucura acumulada
que só arruína o Recanto
Musas chegam a corar
diante da libertinagem
e o que posso fazer é orar
pra por fim à sacranagem
Bebi das águas do Jordão
para me purificar
E foi por lá que vi Adão
deixar seu ganso afogar
Pro licor de Ene Ribeiro
aconselho ir com cautela
ele agrada a goiano e a mineiro
mas só leva ao rela-rela
As batinas esgarçadas
chegam a me dar preguiça
andam mal aparelhadas
e me deixam omisso à missa
Mandei-as para Araçatuba
para u´a completa cerzida
mas tendo ido para Cuba
a cerzideira tá noutra vida
Na cidade do Divino
a bênção fui receber
mas sem lá ver Dom Belvino
Nanda fez-me ver pra crer
A santa ceia deste ano
será recheada a caju
que embora fruto profano
mordê-la-á a pia Kathmandu
O namoro de portão
continua por mim proibido
pois leva a mais turbação
e à cupidez de Cupido
De cajado em prontidão
para apascentar ovelhas
que, rebeldes levam puxão
que lhes arranca as orelhas