A barganha.
Muitas vezes barganhei
Objetos sem valor
O bom era o que eu dei
Recebia um sem valor
Se com isto eu só ganhei
Hoje sou um perdedor.
Barganhei minha comida,
Meu colchão, meu cobertor,
Minha roupa colorida
Um revólver sem tambor
Meu chapéu de aba caída
Meu cavalo marchador.
Barganhei o meu facão
Meu sapato e o meu cinto
Barganhei o enxadão
Coisa mais do meu recinto
Barganhei muito feijão
Por prazeres que não sinto.
Barganhei a minha paz
Por um pedaço de terra
Não olhei quem vinha atrás
Subindo a mesma serra
Descobri que quem mal faz
Geralmente só se ferra.
Certo dia barganhei
A mulher que era minha
Era aquela que eu casei
Para ser minha rainha
Mas depois renunciei
À grandeza que ela tinha.
Nada tendo a barganhar
Barganhei minha cunhada
Era moça salutar
Sempre muito ajuizada
Queria recuperar
O perdido na estrada.
Minha vida eu barganhei
Hoje nada mais eu tenho
Tudo o que confessei
Coisas do meu próprio engenho
São pedaços que passei
Pela falta de empenho.
Hoje estou a lamentar
Pelo tempo que perdi
Vou tentar recomeçar
Cumprir o que prometi
Vou reconstruir meu lar
Que outrora eu destruí.
Vou buscar minha mulher
Pra lhe dar um novo lar
Vou aonde ela estiver
Pra com ela enamorar
Se com o filho estiver
Eu de todos vou cuidar.
Vou viver só para ela
Vou amá-la até o fim
Quero vê-la sempre bela
Ela sempre foi assim
Afinal ela é aquela
Que nasceu só para mim.
Minha casa eu vou fazer
Num lugar muito seguro
Quem for lá poderá ver
Que não sou nenhum pão duro
O meu lar eu quero ter
Sem ouvir um esconjuro.
Não vou mais me aborrecer
Vou ser conciliador
Vou tentar me convencer
Que eu tenho algum valor
O que fiz vou refazer
Vou mostrar a força do amor.