O imigrante negro.

Bom dia para a comunidade negra, hoje é o seu dai e esta é uma pequena homenagem do Clube Capixaba do Cordel aos que e com a sua cultura ajudaram na formação da Nação Brasileira.

Sou um negro mocorongo

Mesmo assim quero escrever

Há pouco eu saí do tronco

Nele tive o meu sofrer

Minha origem é o Congo

Mas o mapa não sei ler.

O meu pouco estudar

Perturbou o meu caminho

O meu difícil pensar

Sempre me deixou sozinho

E o meu palavrear

Minha coroa de espinho.

Tive outras vidas mil

Mas também perdi a conta

Mesmo aquela que foi vil

Teve vantagens sem conta

Sou quem na vida subiu

Sem chegar à vida santa.

Sou crioulo pau-de-arara

Eu nunca vou tomar jeito

Mesmo apanhando com vara

Meu linguajar tem defeito

Meu trabalho na coivara

Me deixou um nó no peito.

Sempre me dizem “o crioulo”

Deixe de ser curioso

Vá logo pro seu monjolo

Deixe de ser preguiçoso

Tome o seu fumo de rolo

Mas não seja vicioso.

Vá tomar sua cachaça

Depois do expediente

Não se meta em trapaça

E não seja conivente

Nunca envergonhe a raça

Ponha essa sempre à frente.

Ao senhor dê privilégios

À madame, recadinhos,

Leve a moça ao colégio

Tome conta direitinho

Para quando ficar velho

Poder ter o seu cantinho.

Respondo que sou negrão

Mas também sou muito forte

Resisti à escravidão

Mesmo tratado a chicote

Conservei a tradição

E também venci a morte.

Hoje tenho a liberdade

Mas me negam a justiça

Falam em felicidade

Como coisa da cobiça

Se houver um negro alcaide

Há milhões deles na liça.

Hoje tenho um grito rouco

Porque já não tenho voz

Pra viver preciso pouco

Sou por isso igual a vós

Para mim o ouvido é mouco

Tenho que viver a sós.

Renato Lima
Enviado por Renato Lima em 20/11/2015
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