Estúpido cupido
Vou falar de algo estranho
Do qual não sou entendido
Eu com ele não barganho
Mesmo estando protegido
Se em geral eu nada ganho
Também não fico escondido.
Esse ser do qual eu falo
É de tal estupidez
Já me disse que eu calo
Somente por timidez
Disse que eu me abalo
Logo na primeira vez.
Eu não fico agradecido
Por ouvir essas verdades
Esse estúpido cupido
Meche com a vaidade
Ele é muito convencido
Por estar na puberdade.
Não consegue ter sucesso
Mas é galanteador
Cobra caro pelo ingresso
De quem é conquistador
Pra ficar contra o progresso
Ele prende o professor.
Pela culpa no insucesso
Ele quer compensação
Quando chega de regresso
Diz que é ocasião
Para o coração egresso
Ele dá dominação.
É metido a lutador
Gosta de andar armado
Evita provocar dor
Para agir dissimulado
Mas é bom atirador
Deixa o coração flechado.
O seu arco do triunfo
É de corda retorcida
Mas é para ele um trunfo
Pegar gente distraída
Depois mostra o seu triunfo
Para as moças divertidas.
Sob o arco de madeira
Uma corda espiralada
Forma uma atiradeira
Com a flecha preparada
Sem usar boleadeira
Deixa a perna amarrada.
Na entrada da fazenda
Ele amarra o seu bilhete
Diz que vai ficar na venda
Escondido em um barrete
Tudo aquilo que for prenda
Ele põe o seu sinete.
Numa festa da quermesse
Ele chega de improviso
Em geral não obedece
A quem quer lhe dar aviso
No lugar que ele desce
Sempre há algum narciso.
No lugar que ele escolhe
Há também algo em comum
Alguém diz que não recolhe
O restolho mais comum
Também diz que não acolhe
A promessa de nenhum.
O lugar fica marcado
Pelas fibras do pudor
Alguém fica apaixonado
Começa a sentir calor
Só respira aliviado
Quando encontra o seu amor.
Na verdade foi flechado
Acertaram o coração
Que está impregnado
Pela ingrata solidão
Mas está bem preparado
Pra viver uma união.
Esse boneco malvado
Esqueceu que eu existo
Empurrou-me para o lado
Disse que não lhe assisto
Fez pro jovem enamorado
Uma cruz como a do Cristo.
Mas o peso dessa cruz
O cupido também leva
Ele não conhece a luz
Também desconhece a treva
No trabalho reproduz
O que foi dito pra Eva.
Deus deu a sabedoria
Pra mulher ser cautelosa
Deu ao homem a ousadia
Pra lutar de forma honrosa
Pro casal deu companhia
E acabou a minha prosa.