Palavras ao vento
No meu limiar da vida
Contratei a solidão
Pra me dar sua guarida
E também inspiração
Durante a vida sofrida
Sem qualquer compensação.
Fui ordeiro e dedicado
Mas sequer fui recebido
No lugar mal afamado
Muito menos fui ouvido
Pelo que foi perdoado
Mas que já fora bandido.
Sei que a minha voz não cala
Os dizeres da orgia
E também que não abala
O poder da tirania
Entretanto a minha fala
Vem do amor de todo dia.
Vendi tudo o que eu podia
Pra poder ter o meu canto
Fui direto à freguesia
Lá contive muito pranto
Vi tamanha covardia
Que tirou o meu encanto.
Não podia estar presente
Entre tanta usurpação
Não seria conivente
Com tamanha enganação
Eu queria tão somente
Ter a paz no coração.
Essa paz que a mim não veio
Hoje estou a dividir
Não pretendo fazer feio
Mas pretendo influir
No lar do qual sou esteio
Dele não vou desistir.
Quis apenas ser alguém
Que seguiu o seu destino
Quando aconselhei alguém
Aclarei seu próprio tino
Sempre respeitei também
Que trajava de abestino.
Sou pequeno no saber
Pouco foi meu estudar
Entretanto o meu querer
Sempre quis me ajudar
Ensinou-me a entender
E a também raciocinar.
Minhas palavras ao vento
Não me causam frustração
Elas sabem o meu intento
E qual a minha intenção
Não me causam desalento
Não me fazem traição.
São palavras que não ouso
Repetir na minha estrada
São meus pássaros no pouso
E depois em revoada
E o passado afortunoso
Fruto da minha jornada.
Meu pensar foi consistente
Posso agora resumir
No fazer fui insistente
Não pensei em consumir
Hoje sou alguém presente
Ensinando a construir.
Meu viver sempre decente
Não me deu busto na praça
Fez de mim homem prudente
Fez-me encontrar a graça
De ser muito paciente
E saber que tudo passa.
Hoje estou distribuindo
O saber que acumulei
Vou assim retribuindo
O saber que aproveitei
E assim vou insistindo
Em doar o que ganhei.
Sei que são poucas palavras
Que agora entrego ao vento
Vieram de muitas lavras
Chegaram neste momento
Mas o tempo essas palavras
Vai repor no esquecimento.