A resposta da lua

Numa redoma de vidro

Envolto em um pesadelo

Senti que estava caído

Preso só pelo cabelo

Com destino retraído

Caminhando em desmazelo.

Não vi porta de saída

Muito menos de entrada

Sem descanso na subida

Não avanço a caminhada

Não achava uma descida

Da vida esperava nada.

Sei que fui maniqueísta

Hoje sou a pedra mó

Sem querer fui alquimista

E também fabriquei pó

Não fui exibicionista

Mas fui preso em xilindró.

Minha força era patente

Mas usei moderação

Procurei a minha gente

Para oferecer a mão

Mesmo sendo impaciente

Não deixei faltar o pão.

Na floresta eu passeava

Imitado os passarinhos

Caminhando assobiava

Ia observando os ninhos

Mas só me aproximava

Pra salvar os filhotinhos.

No deserto de emoções

Onde eu sobrevivia

Sempre havia confusões

Coisa que eu não queira

Ganhei incompreensões

Na casa sem alegria.

Perguntei diversas vezes

O porquê das agressões

Que duravam vários meses

Sem quaisquer explicações

Só ouvi que os camponeses

Sempre falam palavrões.

Numa vila que havia

Perto de onde eu morava

Aos domingos acontecia

Uma missa onde eu rezava

Da minha crença alguém ria

Dizendo não precisava.

Muitas vezes claudiquei

Por não confiar em nada

Outras vezes tropecei

Sob o peso da jornada

Mas um dia eu deparei

Com a lua iluminada.

Para a lua eu confessei

Que amava uma mulher

Dela eu me afastei

Pra fazer o que ela quer

Porém acho que errei

Ao só dar o que puder.

Minha lua respondeu

Que estou atormentado

Não perdi o que era meu

O que é meu está guardado

Tudo aquilo que Deus deu

Um dia será tirado.

Ao ouvir esse recado

Veio à tona uma lembrança

Alguém disse ser pecado

Negar vida à esperança

E que todo passo dado

Diminui qualquer distância.

Fui depois falar com as flores

Sobre o que eu tinha ouvido

Apesar de muitas cores

Tinham pouco colorido

E sem reclamar das dores

Disseram ter entendido.

Fui também falar com o sol

Que brilhava intensamente

Eu falei que era o farol

Para iluminar a gente

Ele disse que é farol

Mas de luz intermitente.

Eu voltei pra minha vila

Fui morar numa casinha

Já que não tinha família

A casinha era só minha

Mas um dia havia fila

Para ver o que eu tinha.

Eu mostrei a minha cama,

Meu lençol, meu travesseiro,

A camisa do pijama

O pavio do candeeiro

Ensinei guardar a chama

Pondo lenha no braseiro.

Depois disso eu via lua

Devagar se afastando

Ela iluminava a rua

Onde um dia eu vi passando

Uma sombra que era a sua

De Deus se aproximando.

Renato Lima
Enviado por Renato Lima em 10/10/2015
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