O sabor da felicidade
Pra poder recomeçar
Cheguei ao fundo do poço
Sem destino, a caminhar,
Procurando um mar insosso
Não via o dia raiar
Mesmo sendo ainda moço.
Não pensava em trabalho
Não queria compromisso
Meu prazer era andar
Não tinha qualquer oficio
Não sabendo onde chegar
Só prestava desserviço.
Nada havia que eu fizesse
Com a minha própria mão
Procurava quem pudesse
Cumprir minha obrigação
Pagaria, se quisesse
Com falsa adivinhação.
Devagar eu caminhava
Sem destino ou direção
Para o lar não retornava
Nunca garanti o pão
Minha dama reclamava
Mas também dava perdão.
Meus filhos também choravam
Com a fome que sentiam
Pouco eu me importava
E de mim eles fugiam
Quando eu os castigava
Esquecer-me prometiam.
Ia assim sobrevivendo
Vendo o tempo transcorrer
Isso não compreendendo
Esquecia o que é dever
Pouco a pouco ia morrendo
Sem saber o que é viver.
Certo dia eu acordei
No fundo da minha alma
Ouvi tudo que falei
Forçado a manter a calma
Um pouquinho eu recordei
Ao saber que a dor acalma.
Retornei ao meu casebre
La não vi sinal de vida
Não havia mais a sebe
Que eu vi na despedida
Vi o meu corpo com febre
Descansando na subida.
Procurei minha mulher
Ela não estava la
Perguntei o que ela quer
Mas eu não queria dar
Dava uma coisa qualquer
Somente pra tapear.
Procurei pelos meus filhos
Nenhum deles encontrei
Só ouvi estribilho
Eu também te abandonei
Por andar fora do trilho
De você eu me afastei.
Ouvi minha voz dizer
Que o amor é infinito
Ele faz do padecer
Alívio para o aflito
Vai à fonte do sofrer
Para ouvir o nosso grito.
Alguém veio me falar
Que eu sou pecaminoso
Não cuidei bem do meu lar
Desonesto e preguiçoso
E agora eu vou pagar
A pena do criminoso.
Meu gemido foi profundo
Uma lágrima rolou
Percebi que neste mundo
Sou alguém que acabou
Só não sou um vagabundo
Porque alguém não deixou.
Fui ouvir a sabatina
De alguém que aconselhava
Disse nãoa existir sina
Que Deus tudo perdoava
Todavia a força trina
Até Deus considerava.
Então vi minha mulher
Com a aura na cabeça
Disse ela que não quer
Que eu a desobedeça
Tudo que a mim vier
Servirá pra que eu cresça.
Vi meus filhos me sorrindo
Perdoando o que eu fiz
Cada um ia subindo
Numa escada de verniz
E assim eu fui sentindo
Como é doce ser feliz.
Na morada que ganhei
Encontrei minha família
Eu com ela caminhei
Abracei a minha filha
Ante a luz eu me curvei
Para ver o sol que brilha.