Meu sabiá.

Bom dia aos amigos e amigas do Recanto, este texto é uma homenagem a todos os amigos e amigas e principalmente ao poeta e amigo Charles Lima.

Olhe moço, ali pertinho,

Veja o alçapão fechado

Dentro dele um passarinho

Que já foi capturado

Retiraram ele do ninho

Para ser engaiolado.

Veja que ele está chorando

É agora um sofredor

Ele não está cantando

Porque sente muita dor

Preso está se recordando

Do seu ninho de amor.

Ele não sabe cantar

Nunca teve uma família

A mãe dele ao descuidar

Caiu presa em armadilha

E o pai, sem o seu lar,

Foi viver em outra ilha.

Pra tentar sobreviver

De mim se aproximou

Dei semente pra comer

Ele então se alimentou

Dei-lhe água pra beber

Ele se dessedentou.

Eu o protegi do frio

Dei a ele o aconchego

O levei perto do rio

Demonstrando o meu apego

E nas tardes de estio

Dei a ele o meu sossego.

Quantas vezes nós, sozinhos,

Conversamos sobre nós

Ele sendo um passarinho

Sendo eu alguém a sós

Cada um no seu cantinho

Emitindo a própria voz.

Minha língua ele falava

Acho que ele me entendia

Para mim ele cantava

Seu cantar me distraía

Junto a mim ele ficava

Vendo a tarde que caía.

Veja agora, neste instante,

A gaiola alguém levar

Pra lugar muito distante

Onde não posso chegar

Pois o perigo constante

Não me deixa aproximar.

Meu bom moço, por favor,

Solte aquele passarinho

Ele aqui é saltador

La será alguém sem ninho

Aqui ele tem amor

La terá somente espinho.

Ponha ele no chapéu

Ele irá te agradecer

Não o deixe andar ao léu

Ele muito vai sofrer

Aqui ele está no céu

Não o deixe se perder.

Ouça o grito de quem sofre

Não existe dor maior

Voará dentro do cofre

Num lugar muito pior

Vai viver só na estrofe

De um poeta menor.

Eu já fiz o meu pedido

Mas devo reconhecer

Que jamais serei ouvido

Nesta terra de sofrer

Eu aqui vivo escondido

Com medo de aparecer.

Ele é um passarinho

Nunca aprendeu cantar

Sua coroa de espinho

É não mais poder voar

Ele agora não tem ninho,

Não tem paz e não tem lar.

Ganhará só um poleiro

Onde terá de dormir

Pulará o dia inteiro

Dali não pode sair

Talvez tenha um sementeiro

Mas ninguém pra repartir.

Apesar de condenado

Nenhum crime cometeu

Viverá engaiolado

No lugar que recebeu

Apesar de ser alado

De voar já se esqueceu.

Pra você é um passarinho

Para mim um anjo alado

Se está fora do ninho

É porque foi retirado

Sei que vai viver sozinho

Nunca mais será amado.

Renato Lima
Enviado por Renato Lima em 20/09/2015
Reeditado em 20/09/2015
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