Súplicas do universo.

Senhor Deus do universo

Onde estás que não responde?

Ouça bem esse meu verso

Nele a minha dor se esconde

Sou alguém, mas tão diverso,

Tenho nada, vou aonde?

Senhor Deus, ouça os pedidos

Dê-nos uma explicação

Somos pela dor jungidos

A buscar expiação

Se já somos tão sofridos

Já é hora do perdão.

Não castigue só por ira

Somos meros caminhantes

Não nos sagramos na pira

Mas vivemos só instantes

Nos permita ouvir a lira

Pra ver o que fomos antes.

Não nos ponha no forcado

Por favor, se compadeça,

Temos de Vós mal falado

É justo que se aborreça

Eu por ser um rejeitado

Já perdi minha cabeça.

Oh Senhor, estou faminto,

Mas não só de alimento

Se sobre o amor eu minto

Sua falta é o meu tormento

Sua falta eu também sinto

Essa falta eu não aguento.

Oh Senhor, por que rezar?

Se eu sei que não me ouve

Se o que fiz foi só pecar

E se isso não Lhe aprouve

Fico nisso a meditar

Porque não sei o que houve.

Oh Senhor, por que há fome

Por que tanta violência

Tanta dor que nos consome

Acho isso incoerência

De um Deus que nada come

Mas perdeu a paciência.

Por que tantas maldições

Numa terra prometida?

Porque tantas frustrações?

Tantas dores escondidas?

Tantas, preces, orações,

Tanto choro na partida.

Oh Senhor, ouça o meu grito

É de um desesperado

Sou um servidor aflito

Num caminho desolado

Assim fiz esse escrito

Pra saber se estou errado.

Oh Senhor onipotente

Se sois justo, quero crer,

Podes mostrar a vertente

Entre o bem e mal fazer

Mostre ser onisciente

Para o mal compreender.

Senhor Deus, estou aqui,

Pra cobrar a minha parte

Muito pouco eu recebi

Em troca da minha arte

Esse pouco eu reparti

Fiz assim a minha parte.

O que queres que façamos?

Eu pergunto porque sei

Que o pecado que herdamos

Foi o preço que eu paguei

E se o passado pagamos

Foi porque reencarnei.

Nessa terra de ninguém

Até Vos sois esquecido

Não me lembro muito bem

Mas por Vós eu fui ungido

Hoje quero ser também

Mas da graça estou banido.

Não há Deus onde a trapaça

É mais forte que o poder

A si mesmo o homem caça

Pensa em sobreviver

Ignora a Vossa graça

Sem pensar que vai morrer.

Senhor Deus, não me olvide,

Sou um pária, um fracassado,

Se o que falo coincide

Com a marca do pecado

Sei que sobre mim incide

A sorte do condenado.

Oh Senhor, quero perdão,

Também quero perdoar

Estendi a minha mão

mas ninguém quis segurar

Reabri meu coração

Mas ninguém quis nele entrar.

Oh Senhor, não tenho paz,

Estou só no meu caminho

Estou como o seu rapaz

Com coroa de espinho

Perdoei o ladravaz

Também vou morrer sozinho.

Se essa for a minha sorte

Peço então que não adentre

Numa casa aonde a morte

Faz que a crença desconcentre

Como o templo do esporte

Onde a luta é para sempre.

Reconheço que não fiz

Minha prece matinal

Mas viver eu nunca quis

Para viver fazendo o mal

Sou na vida um aprendiz

Sem descanso semanal.

Se não sei como fazer

Meu ofício não ensina

Se comungo o desprazer

Comungar é a usina

Tenho assim muito a fazer

Pois o meu trabalho é sina.

Meu Senhor, sua resposta,

É apenas compaixão

Remova da terra a costa

Onde existe ingratidão

Veja aquele de mão posta

Que não ama o seu irmão.

Mas Senhor, eu sei que guarda,

Nessa terra do sem fim

Nesse ser que o aguarda

Uma dupla que é assim

Um sábio montando guarda

À fera que trago em mim.

Renato Lima
Enviado por Renato Lima em 31/01/2015
Código do texto: T5121063
Classificação de conteúdo: seguro