A chata e a feiticeira
Existia uma bixiguenta no sertão
Que era toda metida a ter boniteza
Se achava a mais linda da região
Não tinha alguém com igual beleza
Dizia isso todo dia com seu bocão
Se sentia a própria Kate, princesa
Quando estava na sua mocidade
Os jovens queriam lhe namorar
Quase todo mundo da cidade
Sonhava em um dia ela beijar
Mas a danada com muita maldade
Adorava a todos eles maltratar
Uma magra demais feito um cibito
Na sua terra existia essa feiticeira
Tinha um corpo todo esquisito
Careca e dentuda feito caveira
Mas dona de um iluminado espírito
Uma boa pessoa, demais verdadeira
Num determinado dia, a linda moça
Começou a feiuda muito perturbar
Dizia: você é mais feia que uma mosca
Que nunca, nunca vai conseguir casar
Vai morrer sozinha, sua bruxa louca
Sem ter um marido para lhe amar
A feiticeira muitos insultos aguentou
Até que não mais conseguiu suportar
Um feitiço poderoso na chata soltou
A moça bonita ia logo se transformar
A beleza que era sua ela surrupiou
Fez plástica mágica sem doutor ajudar
Foi um castigo muito bem aplicado
De corpo com a moça chata trocou
Que ficou com rosto desconfigurado
E nunca mais de ninguém ela zombou
Andou por anos com o corpo mudado
Até que finalmente bondosa ficou
Percebendo que bastante havia errado
Para a feiticeira triste se confessou
Nunca mais ia mangar de feio e aleijado
Na marra, a peste se humanizou
Pediu pra o feitiço ser desrealizado
De joelhos, chorando se humilhou
A feiticeira que era gente da gente
No pedido da triste moça acreditou
Já tinha feito ela passar berrengues
O feitiço então ela prontamente retirou
Mas disse para ela ser moça decente
Se não o feitiço voltava. Lhe avisou
Porém, aproveitando a oportunidade
Também vou minha beleza mudar
Não quero ficar com a sua mocidade
Mas, sim, um pouco me desfeiurar
Disse a feiticeira com felicidade
Quero um bom homem arrumar
Não vou a sua beleza de novo tomar
Só queria de você um simples favor
Um fio de cabelo seu podes me dar?
Vou misturar com uma linda flor
Um pedaço do seu genético DNA
E fazer a vida pra mim ter mais sabor
Depois disso, a feiticeira ficou bonita
A moça, que era chata, boa virou
Uma amizade que começou esquisita
A vida toda, todinha ela perdurou
Uma a outra sempre fazia visita
Com um final feliz a história terminou
Para quem tem excesso de vaidade
Isso serve como uma boa lição
Viva sempre com simplicidade
Seja uma pessoa boa de coração
Porque a beleza se vai com a idade
O amor e a humanidade vão nunca não
Eraldo Gadelha Filho
23 de janeiro de 2015