abandonados

Se um dia acontecer

Eu ficar abandonado

Vou, talvez, me aborrecer

Sem ficar desesperado

Talvez tente refazer

O caminho fracassado.

O abandono sempre existe

Em geral dissimulado

É um termo que consiste

Dizer que fez tudo errado

Sendo fraco ele resiste

Sendo forte é derrotado.

Se alguém se desespera

Por se ver abandonado

É porque demais espera

Por alguém ser ajudado

Mesmo quando coopera

No fim é prejudicado.

O abandono na família

Quase sempre é esperado

Vem primeiro pela filha

Que encontra um namorado

Vê que o rosto da mãe brilha

Mas não quer o pai ao lado.

Quando chega um conhecido

Pra pedir algum favor

O velho fica esquecido

Ninguém vê a sua dor

Em geral é deprimido

Diz que vive de favor.

Se consegue aposentar

O dinheiro ele não vê

Dizem que é pra pagar

Tudo que ele comer

E o troco que sobrar

Ele não vai receber.

A esposa o abandona

Depois vai pedir pensão

Em geral ela é mandona

E de pouca educação

Da verdade quer ser dona

Ignora o que é razão.

Quando vai nascer um neto

Quase sempre é procurado

Ela agora é objeto

Para o dinheiro emprestado

Mandam ele ficar quieto

Por estar negativado.

Sendo tão desprotegido

O velho vai bater asa

Vai pra rua entristecido

Busca a morte que se atrasa

E de tão desiludido

Não quer mais voltar pra casa.

Anda sem rumo ou destino

Passa o dia a caminhar

Leva um cobertor fino

Usa a roupa sem lavar

Tem seu próprio desatino

Que nãodeixa ele pensar.

Come um pão que oferecem

Mas pensa em retribuir

Junto a outros permanece

Por não ter aonde ir

Por qualquer coisa agradece

Da má sorte vai sorrir.

Seu cartão de benefício

Com o tempo vai vencer

Tentam pô-lo no hospício

Para ele não morrer

Dizem que vive no vício

E não pode se mover.

A verdade nisso tudo

É somente o interesse

Fizeram o velho sisudo

Pra que ele oferecesse

Seu salário como escudo

Pra que a família vivesse.

Todo velho já viveu

O bastante pra saber

Que aquilo que é seu

Certamente vai perder

Tudo que lhe aconteceu

Serviu pra ele aprender.

Ele arranja um apelido

Não tem nome ou sobrenome

Em geral fica escondido

Fugindo do frio e fome

Maltratado e esquecido

Do seu abrigo ele some.

Vai virar um andarilho

Sem qualquer obrigação

Andar sujo e maltrapilho

Implorar um simples pão

Pensa em disparar gatilho

Pra acabar a obrigação.

Vendo a vida indo pro fim

Completa a sua missão

O velho pensa que assim

Alguém vai pedir perdão

E que poderá enfim

Abrir o seu coração.

Renato Lima
Enviado por Renato Lima em 03/01/2015
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