Frei Dimão doutrina Kathie menina
Quando pegas co´a santaria
é o momento que mais curto
do breu da noite ao raiar do dia
de olho no teu bendito furto
O Pai é às vezes colérico
com todos os transgressores
e do celestial teleférico
lança também seus rancores
Se o desobedeceu Moisés
podes fazê-lo também tu
se ao Facuri mostras os pés
estarás quebrando um tabu
Pelo meu sacro evangelho
um mandamento eu adiciono
o seguro morreu de velho
e u de ébrio não tem dono
O mandamento que estendo
é pra espantar o sacanás
a alma se acaso lhe vendo
ao menos tu, tu não phoderás!
Preciso de boa madeira
para lavrar novo cajado
sei que mais dura é a aroeira
mas o pau-santo é sagrado
E se acaso o pau empena
terei trabalho dobrado
podes imaginar a cena
dum frade não empinado?
As minhas velas votivas
precisam ser acendidas
por quê não te motivas
para essa cena ungida?
Tomei emprestado báculo
ao qual não me acostumo
faz pra ele um receptáculo
onde possa jorrar seu sumo
Enquanto o círio se derrete
cuida de tuas obrigações
e se alguma outra freira se mete
force a fazer minhas abluções
Andei rezando por ti
pela noite o tempo inteiro
queimei-me como nunca vi
pois és fagulha no palheiro
O natal se avizinha
o presépio cumpre fazer
cuida que a pobre mãezinha
não deixe o Zé endurecer
E se desta vez vier menino
fala pra Gabriel Arcanjo
melhor não tocar o sino
e dar a corda pro marmanjo
Contudo, se menina vier
dá loas ao Criador
enfim teremos mulher
pra pintar de salvador
Co´o apóstolo Valdemiro
vê se fazes boa fezinha
pra p´la culatra não sair tiro
e de lambuja, vir a toalhinha
Com nobre missionário
contudo não me compares
ele é precioso relicário
embora sempre R e R, só ares
Cuida de meu breviário
que anda um tanto ensebado
o Crispim, do sacrário
vai mandar-me um engrossado
Corramos à sacristia
para tua absolvição
nesta divina folia
o que resta é só folião
Kathie, compungida, como de hábito e de hálito, acolhe a manifestação de Frei Dimão - e lhe aperta o coração:
Apego-me co' s santos\
Faço preces fervorosas\
Para te tirar de todo antro\
Só assim ficarei gozosa\
O Pai às vezes quer te dar a lição\
Porque perturbas o frei Dimão\
Acalme-se e tome um chimarrão\
Antes que eu te dê um pescoção\
Então quebrarei o tabu\
Mostrarei bem os meus pés\
E Facuri comerá não só o tutu\
Violará também os meus anéis\
Você e teus ensinamentos\
Nem que mande o figurino\
Quem tem 'u' tem pensamentos\
Só se eu não tivesse tino\
Não phoderá c'o sacanás\
Mostrarei a minha arruda\
E tu será o capataz\
Cobrindo a minha bund(i)a\
De duro madeiro, eu sou entendida\
Mas vale um pau-santo\
Porque as freira" numbriga"\
E assim, fico bem estendida\
Teu trabalho não será dobrado\
Porque conheço tua fé dura\
E o exaltarei num bom brado\
tamanha minha fissura\
Acenderei o fogo até de madrugada\
Co'as tua velas bem ungidas\
E rezarei mais sossegada\
Até sentires c'o a cera lambida\
Você é um santo anjo\
Bem vês a sua preocupação\
Farei até um certo gancho\
Até jorrar toda a minha unção\
O círio é bem potente\
Derrete-se bem na quentura\
De fé tão grande e latente\
Eu juro que tiro até a dentadura\
Sei que rezas pensando em mim\
Pela noite afora rogando aos céus\
Fazendo teu sac(r)o querubim\
A bater ligeiro e bem ao léu\
O Zé sempre foi durão\
Tão lindo vê-lo crescer\
Até parece um rapagão\
Sendo santo, melhor amolecer\
Menino tem um pintinho\
Assim como Zizuis o tem\
E Gabriel tocará o sino\
E os reis magos virão de Belém\
Se for menininha\
Enfim, mulher no andor\
Faremos umas trovinhas\
Até chegar ao Criador\
Valdemiro é homem astuto\
Faz a sacolinha avolumar\
E depois comunga bem p(l)uto
Tentando me fazer acreditar\
És um frei incomparável\
Como tu só o caboco Papakú\
E assim te fazes deleitável\Checa?
Depois come o angú\
Teu breviário é o meu trabalho\
Cuido dele como ninguém\
Mas antes jogarei baralho\
Bem lá na Vila Vintém\
Na sacristia iremos orar\
Para que a p(h)oda seja divina\
Mas antes iremos rangar\
Comer macarraõ com gelatina\