A caravana
Quase toda caravana
Leva em si algum menino
A si mesma só engana
Para si não há destino
Quase sempre desengana
Tem em si mal intestino.
Sem caminho no deserto
Pra si mesma é direção
Com destino sempre incerto
Não encontra a solução
Pra quem segue sempre perto
Oferece a solidão.
Sem caminho definido
Segue apenas por instinto
Seu futuro indefinido
Lhe dá um luar destinto
Dá ao seu povo espremido
Esperança no extinto.
Quando então o sol abrasa
Traz em si grande tormento
Como a praga que arrasa
Até mesmo o pensamento
Para alguns, porém, a brasa
Oferece bons momentos.
Toda caravana segue
Um caminho já traçado
Quando há alguém que negue
Ele é logo destronado
Pode ter quem o persegue
Pelas faltas do passado.
Quando vemos a caravana
Que ao largo vai passando
Passos lentos, mente insana,
Vozes altas, muito pranto,
Poucas preces, muita trama,
Muita gente reclamando.
Há soluço que sufoca
Uma voz entrecortada
Mostra a vida que se afoga
No futuro na estrada
Com a sorte sempre joga
Mas no jogo é derrotada.
Seu silêncio está isento
De parcelas de mistério
Tem o raciocínio lento
Mas deseja o monastério
Sempre cai em desalento
Quando vê um cemitério.
Não existe caravana
Pra fazer com que vivamos
Vida longa ou traga fama
Que só vem quando lutamos
Pode vir alguém que clama
Quando o ignoramos.
Eu segui a caravana
Caminhando sempre só
Pois perdi a minha dama
Cujo corpo virou pó
Mesmo assim ela proclama
Que dispensa qualquer dó.
E assim fui caminhando
Enfrentando o desamor
Poucas vezes recordando
Do meu pequeno valor
Entretanto alimentando
O maior e puro amor.
Assim fui com a caravana
Sufocando a ilusão,
Procurando ver a Chama,
Para a ela dar a mão
Essa Chama que nos chama
É a caravana do perdão.