O jumento que virava zebra
I
Joaquim Pedro e Januário
Dois filhos de Pé Rapado
Se engraçaram pra o meu lado
Pensando que eu sou otário
O primeiro salafrário
Usando certo talento
Pintou um pobre jumento
Deixando o bicho listrado
Depois mandou-me um recado
No maior descaramento
II
Que tinha para vender
Um animal muito raro
Que o preço não era caro
E mandou me oferecer
Quando passei lá pra ver
O animal informado
O outro cabra safado
Disse que o bicho bacana
Era uma zebra africana
Que ele tinha importado
III
Na hora eu desconfiei
Que o tal bicho era um jegue
Pensei - Se não for eu cegue
Mas na hora não falei
Fiquei calmo e meditei:
Se eles querem me enganar
Vou fingir acreditar
Na trapaça desses dois
Pra dar o troco depois
Que a farsa terminar
IV
Então resolvi comprar
A tal zebrinha africana
Mas pedi uma semana
Pra ela se acostumar
Com a mudança de lugar
E com um novo alimento
Se derem consentimento
Eu comprarei com prazer
Se ela não adoecer
Eu farei o pagamento
V
Os dois de mim se afastaram
Cochicharam num recanto
E para meu grande espanto
Eles logo concordaram
Não sei se subestimaram
Minha pouca inteligência
Cometendo a imprudência
De tentarem me enganar
Mas eu ia lhes mostrar
Que tudo tem consequência
VI
Apenas por precaução
Pensando em me resguardar
Tirei com meu celular
As fotos da transação
Nem notaram minha ação
Pois disfarcei com cuidado
Lidar com cabra safado
Exige sagacidade
Se houvesse necessidade
Eu tinha um trunfo guardado
VII
Peguei a zebra e levei
Pra minha propriedade
Depois fui para a cidade
Estopa e Thinner comprei
Voltei para casa e tratei
De remover a pintura
Cheguei a sentir tontura
Com o cheiro do solvente
Mas fiquei muito contente
Ao final da aventura
VIII
Como o jumento ficou
Com o cheiro do solvente
Lavei-o com detergente
Até que o cheiro passou
Depois que o pelo secou
Amarrei o animal
Num recanto do quintal
Com água e muita comida
Levando ele em seguida
Para dormir no curral
IX
Depois que eu terminei
Sorri de contentamento
A zebra virou jumento
Do jeito que imaginei
O plano que elaborei
Já começava a dar certo
No final o mais esperto
Iria levar vantagem
O troco da malandragem
Já estava muito perto
X
De manhã ao acordar
Mandei recado a Joaquim
Que uma notícia ruim
Eu tinha para lhe dar
Viesse sem demorar
Que a zebra tinha sumido
Não sei se tinha fugido
Ou se alguém tinha roubado
E que eu ia ao delegado
Dar queixa do ocorrido
XI
Joaquim chegou com urgência
Nervoso como eu pensava
Disse que não precisava
Dar queixa da ocorrência
Que eu tivesse paciência
Não fosse à delegacia
Que ele se encarregaria
De achar o animal
Mas olhava pra o curral
Onde o jumento comia
XII
Mas eu lhe disse – O mais certo
É contar ao delegado
Pois se alguém tiver roubado
Pode ainda estar por perto
O resultado é incerto
Mas não vejo outra opção
Se foi roubo, o tal ladrão,
Deve ser apreendido
Se o bicho tiver fugido
Ninguém vai para a prisão
XIII
Joaquim só faltou chorar
Para eu não ir à polícia
Dizendo que essa notícia
Não devia se espalhar
Pois podia provocar
Um grande mal entendido
Se a zebra tiver fugido
E alguém tiver achado
Pode ser que o delegado
Vá tratá-lo por bandido
XIV
Eu notei que o salafrário
Estava preocupado
De depor ao delegado
Pra não passar por falsário
Então chamou Januário
E tentou me intimidar
Dizendo que se eu contar
Essa estória esfarrapada
De uma zebra roubada
Ninguém vai acreditar
XV
Que por falta de cuidado
Eu deixei que o animal
Sumisse do meu curral
E como eu era o culpado
Lhe pagasse o combinado
Para o assunto encerrar
Eu disse – Não vou pagar
Pois posso provar o fato
E lhe mostrei o retrato
Que tirei com o celular
XVI
Com essa ele não contava
E ficou atrapalhado
Chamou o irmão de lado
E enquanto conversava
De vez em quando ele olhava
Em direção ao jumento
Até que em dado momento
Disse meio encabulado
Que eu estava dispensado
De fazer o pagamento
XVII
Com fingida ansiedade
Mostrei-me preocupado
Como se o bicho comprado
Fosse zebra de verdade
Os dois, na realidade,
Reconheceram o jumento
Mas não tiveram argumento
Para ali reivindicá-lo
Pensando em recuperá-lo
Talvez em outro momento
XVIII
Eu considerava ao fim
Em lhes devolver o bicho
Mas resolvi por capricho
Ficar com ele pra mim
Pois Januário e Joaquim
Não mereciam respeito
Não sei se agi direito
Mas assim foi combinado
Eu não ia ao delegado
E o negócio era desfeito
XIX
Os filhos de Pé Rapado
Não disfarçavam seu medo
Que eu não guardasse segredo
Sobre o golpe fracassado
E mesmo vendo frustrado
O seu plano fraudulento
Mesmo perdendo o jumento
Não tiveram outra opção
Aceitando a condição
Que se tinha no momento
XX
Não sei qual o mais safado
Joaquim Pedro ou Januário
Pra me fazer de otário
Não nasceu, foi abortado
Ou talvez nem foi gerado
Esses nunca esquecerão
Essa tão grande lição:
Quem vende jegue por zebra
Por pouco tempo celebra
Pois vem logo a punição.
XXI
Depois do caso encerrado
Senti arrependimento
Pintei de novo o jumento
Tal qual havia comprado
A zebra tinha voltado
Chamei os irmãos pra ver
E disse vou devolver
Pois sou um cara direito
Se o negócio foi desfeito
Era esse o meu dever
XXII
Os dois não acreditavam
No que os próprios olhos viam
Se os seus lábios sorriam
Aqueles me fuzilavam
Suas vozes gaguejavam
Mas nenhum dos dois falou
O jerico então zurrou
Como em reconhecimento
Se era zebra ou jumento
Feliz pra casa voltou
I
Joaquim Pedro e Januário
Dois filhos de Pé Rapado
Se engraçaram pra o meu lado
Pensando que eu sou otário
O primeiro salafrário
Usando certo talento
Pintou um pobre jumento
Deixando o bicho listrado
Depois mandou-me um recado
No maior descaramento
II
Que tinha para vender
Um animal muito raro
Que o preço não era caro
E mandou me oferecer
Quando passei lá pra ver
O animal informado
O outro cabra safado
Disse que o bicho bacana
Era uma zebra africana
Que ele tinha importado
III
Na hora eu desconfiei
Que o tal bicho era um jegue
Pensei - Se não for eu cegue
Mas na hora não falei
Fiquei calmo e meditei:
Se eles querem me enganar
Vou fingir acreditar
Na trapaça desses dois
Pra dar o troco depois
Que a farsa terminar
IV
Então resolvi comprar
A tal zebrinha africana
Mas pedi uma semana
Pra ela se acostumar
Com a mudança de lugar
E com um novo alimento
Se derem consentimento
Eu comprarei com prazer
Se ela não adoecer
Eu farei o pagamento
V
Os dois de mim se afastaram
Cochicharam num recanto
E para meu grande espanto
Eles logo concordaram
Não sei se subestimaram
Minha pouca inteligência
Cometendo a imprudência
De tentarem me enganar
Mas eu ia lhes mostrar
Que tudo tem consequência
VI
Apenas por precaução
Pensando em me resguardar
Tirei com meu celular
As fotos da transação
Nem notaram minha ação
Pois disfarcei com cuidado
Lidar com cabra safado
Exige sagacidade
Se houvesse necessidade
Eu tinha um trunfo guardado
VII
Peguei a zebra e levei
Pra minha propriedade
Depois fui para a cidade
Estopa e Thinner comprei
Voltei para casa e tratei
De remover a pintura
Cheguei a sentir tontura
Com o cheiro do solvente
Mas fiquei muito contente
Ao final da aventura
VIII
Como o jumento ficou
Com o cheiro do solvente
Lavei-o com detergente
Até que o cheiro passou
Depois que o pelo secou
Amarrei o animal
Num recanto do quintal
Com água e muita comida
Levando ele em seguida
Para dormir no curral
IX
Depois que eu terminei
Sorri de contentamento
A zebra virou jumento
Do jeito que imaginei
O plano que elaborei
Já começava a dar certo
No final o mais esperto
Iria levar vantagem
O troco da malandragem
Já estava muito perto
X
De manhã ao acordar
Mandei recado a Joaquim
Que uma notícia ruim
Eu tinha para lhe dar
Viesse sem demorar
Que a zebra tinha sumido
Não sei se tinha fugido
Ou se alguém tinha roubado
E que eu ia ao delegado
Dar queixa do ocorrido
XI
Joaquim chegou com urgência
Nervoso como eu pensava
Disse que não precisava
Dar queixa da ocorrência
Que eu tivesse paciência
Não fosse à delegacia
Que ele se encarregaria
De achar o animal
Mas olhava pra o curral
Onde o jumento comia
XII
Mas eu lhe disse – O mais certo
É contar ao delegado
Pois se alguém tiver roubado
Pode ainda estar por perto
O resultado é incerto
Mas não vejo outra opção
Se foi roubo, o tal ladrão,
Deve ser apreendido
Se o bicho tiver fugido
Ninguém vai para a prisão
XIII
Joaquim só faltou chorar
Para eu não ir à polícia
Dizendo que essa notícia
Não devia se espalhar
Pois podia provocar
Um grande mal entendido
Se a zebra tiver fugido
E alguém tiver achado
Pode ser que o delegado
Vá tratá-lo por bandido
XIV
Eu notei que o salafrário
Estava preocupado
De depor ao delegado
Pra não passar por falsário
Então chamou Januário
E tentou me intimidar
Dizendo que se eu contar
Essa estória esfarrapada
De uma zebra roubada
Ninguém vai acreditar
XV
Que por falta de cuidado
Eu deixei que o animal
Sumisse do meu curral
E como eu era o culpado
Lhe pagasse o combinado
Para o assunto encerrar
Eu disse – Não vou pagar
Pois posso provar o fato
E lhe mostrei o retrato
Que tirei com o celular
XVI
Com essa ele não contava
E ficou atrapalhado
Chamou o irmão de lado
E enquanto conversava
De vez em quando ele olhava
Em direção ao jumento
Até que em dado momento
Disse meio encabulado
Que eu estava dispensado
De fazer o pagamento
XVII
Com fingida ansiedade
Mostrei-me preocupado
Como se o bicho comprado
Fosse zebra de verdade
Os dois, na realidade,
Reconheceram o jumento
Mas não tiveram argumento
Para ali reivindicá-lo
Pensando em recuperá-lo
Talvez em outro momento
XVIII
Eu considerava ao fim
Em lhes devolver o bicho
Mas resolvi por capricho
Ficar com ele pra mim
Pois Januário e Joaquim
Não mereciam respeito
Não sei se agi direito
Mas assim foi combinado
Eu não ia ao delegado
E o negócio era desfeito
XIX
Os filhos de Pé Rapado
Não disfarçavam seu medo
Que eu não guardasse segredo
Sobre o golpe fracassado
E mesmo vendo frustrado
O seu plano fraudulento
Mesmo perdendo o jumento
Não tiveram outra opção
Aceitando a condição
Que se tinha no momento
XX
Não sei qual o mais safado
Joaquim Pedro ou Januário
Pra me fazer de otário
Não nasceu, foi abortado
Ou talvez nem foi gerado
Esses nunca esquecerão
Essa tão grande lição:
Quem vende jegue por zebra
Por pouco tempo celebra
Pois vem logo a punição.
XXI
Depois do caso encerrado
Senti arrependimento
Pintei de novo o jumento
Tal qual havia comprado
A zebra tinha voltado
Chamei os irmãos pra ver
E disse vou devolver
Pois sou um cara direito
Se o negócio foi desfeito
Era esse o meu dever
XXII
Os dois não acreditavam
No que os próprios olhos viam
Se os seus lábios sorriam
Aqueles me fuzilavam
Suas vozes gaguejavam
Mas nenhum dos dois falou
O jerico então zurrou
Como em reconhecimento
Se era zebra ou jumento
Feliz pra casa voltou