* Um relógio diferente *

Um dia um varredor de ruas,

Estava a vassourar e encontrou,

Junto a um grosso carvalho

Um objeto de grande valor.

No meio das folhas a luzir.

Parecia um relógio a fluir.

O senhor então o pegou.

Baixou-se e examinou o achado.

Era um relógio diferente.

Desde que entrara ao serviço

Ele se lembra contente.

Achou muitas coisas perdidas,

Nada como essa parecida

Era um ouro reluzente.

Algumas de valor já achara:

Luvas, livros, chapéus,

Óculos, lenços, bolsas,

Medalhas, taças, troféus,

Até perdera a conta.

Desde que o sol aponta

Com seus lindos raios no céu.

E também achara relógios,

Nunca iguais a este.

O senhor pegava no objeto,

Quem será que o perdeste?

Alguém que ele não conhecia,

E ao porteiro o entregaria

Para achar o dono e o devolvesse.

No regulamento do Parque

Era assim que vinha escrito

Quem provasse que lhe pertence.

Recebia este gesto bonito

Só uma vez não procedeu

Desta maneira como leu.

Por achar o caso esquisito.

Foi quando achou, no parque,

Um menino ao relento.

Não o entregou ao porteiro,

Como estava no regulamento.

Ele próprio levou o achado

Pela mão com todo cuidado

Até à casa dos pais do rebento.

Ali mais um objeto perdido:

Um relógio ele havia achado.

Era de ouro reluzente

E tinha um mostrador desenhado,

Com os números em relevo.

Parecia ser acervo

De algum advogado.

O senhor observou melhor

E reparou que tinha nas mãos

Um relógio invulgar,

Como nunca vira tão bonitão.

Não se limitava só em bonito,

Era extraordinário, repito.

Talvez de algum ricão.

Um raio de sol e de folhas,

Incidiu sobre o mostrador,

Como querendo mostrar

Para aquele humilde senhor

A maravilha de fabricação

Que estava em suas mãos

E ao porteiro ele entregou.

— Tantos ponteiros! E para quê?

– Perguntava o senhor para si.

Então começou a reparar:

Um ponteiro para medir

Os segundos, outro os minutos,

Outro para as horas, reduto.

Mas este estava ali.

Mas havia mais ponteiros…

Que os dias da semana indicava,

Outro que indicava os meses

E outro as estações mostrava.

Numa janela aberta no mostrador,

Via-se um número de valor

Era o dia do mês que mostrava.

E num buraquinho redondo,

Que quase se não via,

Um nº de quatro algarismos,

Há indicar o ano que seria.

Relógio mais completo não há

Seria impossível inventar!

Tenho certeza que não existia.

Ele trabalhava num tic-tac,

Tão leve, que mal se ouvia.

O senhor procurou a corda.

Não tinha como puxaria.

Trabalhava com o calor do sol,

Como sucede com o girassol

Parecendo uma magia.

Pensou mal acreditando

Nunca vira tanta perfeição.

Foi entregar o seu achado

Ao porteiro da repartição.

O dono devia estar em cuidado.

Àquela hora muito preocupado,

Bateu-lhe uma aflição.

Daí a pouco passaria pelo parque

E perguntaria se tinham encontrado

Um relógio com seis ponteiros,

De mostrador desenhado,

Um relógio de ouro muito valioso,

Muito antigo maravilhoso,

Que bom que o tinha entregado.

Mas o dono não apareceu

E ele continuava a trabalhar

No seu tic-tac leve

E com precisão a indicar

Os ponteiros com precisão

Tudo inclusive a estação.

Mas o dono não veio buscar.

O relógio maravilhoso passava

Aquele senhor pertencer.

Ele ainda quis opor-se:

— Não mereço. Fique para você.

Não iria saber usar

Mas a felicidade não o deixou falar.

Sou tão simples ele queria dizer.

O relógio de ouro passou a ser

A sua única preocupação.

— Se ele um dia parar?

Mas ele não parava não.

O primeiro pensamento do senhor

Era para o seu mostrador.

Acabaria um sonho ou ilusão.

Um relógio incansável.

Ele nunca se atrasava.

Mas o senhor não era o mesmo.

A vista já lhe faltava

Não podia saber as horas

Os anos se passaram e agora

Não via o que o mostrador indicava.

Claudia Pinheiro
Enviado por Claudia Pinheiro em 29/07/2014
Reeditado em 18/08/2014
Código do texto: T4901738
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