Sou
Meus dias eu passo nas nuvens
Sou sol que aquece o tempo
Sou vento em movimento
Monção trovão trovoada
Sereno neblina chuvarada
Nevasca que esfria o tempo.
O calor é meu alimento
Transformo em energia
Sou o cipó que se guia
Se enrosca buscando a luz
Sou a madeira da cruz
Sustento um corpo em agonia.
Sou madeira que nascia
Lá no fundo do roçado
Um velho mourão enfincado
Sustentando a porteira
Sou miolo de aroeira
Pelo tempo desgastado.
Sou flamboyant enfolhado
Se preparando pra florada
Sou a catingueira ocada
Soltando a sua resina
Tenho o leite que contamina
Se na água for misturada.
Sou a madeira talhada
Que sustenta o velho mastro
As tabuas que formavam o claustro
Durante a travessia
Fixando os grilhões que prendia
Os escravos em seu lastro.
Eu cresço num solo vasto
As monções me alimentam
Minhas raízes me sustentam
Buscando os nutrientes
Disperso as minhas semente
A outros seres que alimentam.