Mote: Como já choveu na Mata/ Vamos rezar pro Sertão
Glosas compostas por Edmilton Torres
I
Todos sabem que o nordeste
Convive com seca há anos
Mas a nação não investe
Pra minimizar os danos
Que ao nosso povo maltrata
Sem dó e sem compaixão
Como já choveu na Mata
Vamos rezar pro Sertão
II
Se houvessem mais açudes
Encheriam no inverno
Mas faltam as atitudes
Nas instâncias do governo
O que vemos é bravata
Só promessa e enganação
Como já choveu na Mata
Vamos rezar pro Sertão
III
Esta seca se repete
De trinta em trinta anos
Eu tenho cinquenta e sete
Carregando desenganos
Que um dia se combata
As causas dessa aflição
Como já choveu na Mata
Vamos rezar pro Sertão
IV
Só resta a Deus apelar
Pois o governo é omisso
Político é bom no falar
Mas é ruim no compromisso
Um bando de burocrata
Sem preparo e sem visão
Como já choveu na Mata
Vamos rezar pro Sertão
V
Até a palma morreu
Por causa da cochonilha
O gado enfraqueceu
Não escapa nem novilha
Sem ajuda imediata
Vai morrer de inanição
Como já choveu na Mata
Vamos rezar pro Sertão
VI
O Sertão está perdendo
Quase todo o seu rebanho
Pois está acontecendo
Um descaso sem tamanho
Quem acompanha constata
Como é grande a omissão
Como já choveu na Mata
Vamos rezar pro Sertão
VII
O agricultor é forte
Mas não resiste e chora
Entregue à própria sorte
Ajuda de Deus implora
Com os olhos em cascata
Vê morrer a plantação
Como já choveu na Mata
Vamos rezar pro Sertão
VIII
Devendo ao banco e com fome
O sertanejo padece
O desespero o consome
Quando o banqueiro aparece
Pra cobrar a duplicata
Com juros e correção
Como já choveu na Mata
Vamos rezar pro Sertão
IX
Quando um dia a chuva vir
O povo vai semear
Voltaremos a sorrir
E a Deus glorificar
Pois nossa fé é inata
No poder da oração
Como já choveu na Mata
Vamos rezar pro Sertão
X
A chuva tão esperada
Deixa o sertão comovido
Pois o som da trovoada
É música para o ouvido
É como uma serenata
O ribombar do trovão
Como já choveu na Mata
Vamos rezar pro Sertão
XI
Ver um açude sangrando
Ou um riacho correndo
U’a semente germinando
Um pé de milho crescendo
A emoção arrebata
Nosso humilde coração
Como já choveu na Mata
Vamos rezar pro Sertão
Edmilton Torres
Glosas compostas por Edilson Biol
O nordeste brasileiro
É imenso e variado
Terra de um povo faceiro
Mas que sofre um bocado
Pela seca em longa data
E a falta de compaixão
Como já choveu na mata
Vamos rezar pro sertão.
Nem todos têm tanta sorte
De morar no litoral
Onde a chuva vem mais forte
E é maior o capital.
Lá quem mora é magnata
Coisa de rico e patrão
Como já choveu na mata
Vamos rezar pro sertão.
O sertanejo trabalha
Planta feijão e não vinga
Cada dia uma batalha
Capinando a caatinga
Planta mandioca e batata
E espera a chuva no chão
Como já choveu na mata
Vamos rezar pro sertão.
Veja só, que bom seria.
Ver o nordeste irrigado
Mas já virou utopia
Ver o Chico desviado
As máquinas tão em sucata
Nada de transposição
Como já choveu na mata
Vamos rezar pro sertão.
O que me deixa zangado
É ver tanta indiferença
Por parte do nosso Estado
Que nesse povo não pensa.
O Brasil é democrata
Mas vigora a opressão
Como já choveu na mata
Vamos rezar pro sertão.
A chuva que vem do céu
Ninguém pode controlar
Mas deixar o povo ao léu
Não dá para se aceitar
Só dão valor para a nata
E o pobre fica na mão
Como já choveu na mata
Vamos rezar pro sertão.
Só é lembrado o nortista
Quando vem nova campanha
Mostram uma grande lista
Os malditos sem vergonha
Registram até em ata
Obras da sua gestão
Como já choveu na mata
Vamos rezar pro sertão.
Eu sonho com a chuva fina
Caindo no meu telhado
Como na festa junina
Sorrisos de lado a lado
Aquele céu cor de prata
Cheio de nuvem e trovão
Como já choveu na mata
Vamos rezar pro sertão.
Nós vemos a presidente
Viajando mundo a fora
Toda feliz, sorridente.
Mas o nordeste ignora
Esquece que essa mamata
Depende da reeleição
Como já choveu na mata
Vamos rezar pro sertão.
O meu cordel é modesto
Sou um poeta amador
Não vá me fazer protesto
Pois faço tudo com amor
Se eu fosse um psicopata
Sujaria a minha mão
Mandava “os de gravata”
Pra setes palmos do chão
Edilson Biol
Glosas compostas por Ansilgus
A lavoura improdutiva
Morreu toda, sim senhor,
Foi uma perda coletiva
Para todo agricultor
Mas no sul é só mamata
Ninguém perde nada não
COMO JÁ CHOVEU NA MATA
VAMOS REZAR PRO SERTÃO
No semiárido também
A seca está devastando
Não vai escapar ninguém
A terra está se quebrando
O gado morre em cascata
Faltando água e ração
COMO JÁ CHOVEU NA MATA
VAMOS REZAR PRO SERTÃO
Não tem milho nem feijão
Algodão já nem se fala
Coitado do cidadão
Que perde o gado e se cala
Parece até acrobata
Sofrendo de inanição
COMO JÁ CHOVEU NA MATA
VAMOS REZAR PRO SERTÃO
As cenas que pude ver
Na minha televisão
Causou traumas pode crer
O gado seco no chão
Meu Deus que vida ingrata
Parece até maldição
COMO JÁ CHOVEU NA MATA
VAMOS REZAR PRO SERTÃO
Enquanto isso seu moço
A gastança envenenada
Cada dia aumenta o fosso
Daqui para a Esplanada
Onde só existe magnata
A afundar a nação
COMO JÁ CHOVEU NA MATA
VAMOS REZAR PRO SERTÃO
Não se vê nada concreto
Salvo as bolsas esmolas
Que são pratos prediletos
Valem mais do que escolas
Onde o país democrata?
Só em tempo de eleição...
COMO JÁ CHOVEU NA MATA
VAMOS REZAR PRO SERTÃO
Mas meu Deus com tanta água
Aqui perto bem no norte
Por que causar tanta mágoa
De tristeza e de morte
No país do burocrata
No Nordeste meu irmão
COMO JÁ CHOVEU NA MATA
VAMOS REZAR PRO SERTÃO
Mas o nosso São Francisco
Tem água até demais
Pra fornecer ao aprisco
E irrigar tudo em paz
No país aristocrata
Onde só manda ladrão
COMO JÁ CHOVEU NA MATA
VAMOS REZAR PRO SERTÃO
Não tem palma nem capim
Nem mesmo barba de bode
A vida ficou ruim
Desse jeito não se pode
Eu como cardiopata
E com dor no coração
COMO JÁ CHOVEU NA MATA
VAMOS REZAR PRO SERTÃO
Onde estão Dilma e Lula
Que só sabem prometer
Só gostam de quem bajula
Matuto vai derreter
Os grandes só de gravata
As obras com lentidão
COMO JÁ CHOVEU NA MATA
VAMOS REZAR PRO SERTÃO
Ansilgus
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Gostei muito do trabalho
E do tema oportuno
Sou poeta quebra galho
Por isso eu não me uno
Com vocês que são a nata
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Tiago Duarte