Quem gosta de comer coco Fica com cara de quenga

Cordel em parceria com Ansilgus e Edmilton Torres

Um dia eu fui à feira

Num dia de feriado

Não tinha nem macaxeira

Alface tinha murchado

O ovo estava choco

A puba tava molenga

QUEM GOSTA DE COMER COCO

FICA COM CARA DE QUENGA

Já estava frio o pastel

O suco tinha esquentado

O cantador de cordel

Até perdeu seu rimado

Cantava assim meio rouco

Aquele seu lengalenga

QUEM GOSTA DE COMER COCO

FICA COM CARA DE QUENGA

Não tinha caldo de cana

Não comprei abacaxi

Acredite! Nem banana

Abobrinha ou caxi

O andú já tava pouco

Na banca do Alvarenga

QUEM GOSTA DE COMER COCO

FICA COM CARA DE QUENGA

Eu não achei rapadura

E nem mesmo requeijão

Daquela caninha pura

Só tinha mesmo o galão

O meu bucho tava oco

E a perna meio capenga

QUEM GOSTA DE COMER COCO

FICA COM CARA DE QUENGA

Pensa que tinha maxixe?

Nem unzinho pra remédio

Minha mulé falou: Vixe,

Que farta de privilégio!

Passei o maior sufoco

Não resolvi a pendenga

QUEM GOSTA DE COMER COCO

FICA COM CARA DE QUENGA

O motivo disso tudo

Que aqui eu to contano

É o desejo absurdo

Desse poeta baiano

Que gosta de comer coco

No almoço e no jantar

E se algo o deixa louco

É querer coco e não achar.

Edmilton:

Gosto muito de cocada

De coco na tapioca

Coco na bacalhoada

No beiju de mandioca

Tô me fazendo de moco

Para essa lengalenga

Quem gosta de comer coco

Fica com cara de quenga

Dancei coco no nordeste

Pois coco também é dança

Por causa d’um cafajeste

Eu entrei numa imbuança

Só precisei de um soco

Para encerrar a pendenga

Quem gosta de comer coco

Fica com cara de quenga

Comer coco todo dia

Deixa o cabra empanzinado

Com bucho inchado e azia

Colesterol elevado

Solta peido, arrota choco

E fica meio molenga

Quem gosta de comer coco

Fica com cara de quenga

Eu conheci um maluco

Que veio do estrangeiro

Ao chegar a Pernambuco

Tentou subir num coqueiro

Pra ver se o coco era oco

Mas desceu todo capenga

Quem gosta de comer coco

Fica com cara de quenga

Água de coco gostosa

Tomei em Boa Viagem

Com muita mulher formosa

Ali naquela paisagem

Encontrei um cabra broco

Doidinho por uma arenga

Quem gosta de comer coco

Fica com cara de quenga

Seu José agricultor

Planta coco em seu roçado

Ele não possui trator

Junta de boi ou arado

Limpa mato e arranca toco

Com chibanca e estrovenga

Mas de tanto plantar coco

Ficou com cara de quenga

Ansilgus:

Gente que mote danado

Botaram pra me lascar

Eu que vivo enferrujado

Vou querer logo apelar

Não que queira dar soco

Pois na certa sou derrenga (¹)

QUEM GOSTA DE COMER COCO

FICA COM CARA DE QUENGA

O coco é um alimento

Muito forte em vitamina

Faz-se bolo sem fermento

E ninguém se contamina

O tronco do pé não é oco

Nele transita a catenga (²)

QUEM GOSTA DE COMER COCO

FICA COM CARA DE QUENGA

Lá na praia tenho vinte

Pés de coco safrejando

Mas o ladrão com acinte

Aos poucos me vai roubando

O nome dele é Tinoco

Que corta com caxarenga (³)

QUEM GOSTA DE COMER COCO

FICA COM CARA DE QUENGA

É um pobre dum coitado

Que dele até me dá pena

Mais um desqualificado

Que faz parte dessa arena

Por vez tem cara de louco

Prefere comer da senga (4)

QUEM GOSTA DE COMER COCO

FICA COM CARA DE QUENGA

Eu conheci dois cantores

Que eram também humoristas

Merecem nossos louvores

Por serem grandes artistas

Mas louvar pode ser pouco

Ao Ranchinho e Alvarenga

QUEM GOSTA DE COMER COCO

FICA COM CARA DE QUENGA

No Maranhão eles usam

Um tambor especial

Na dança os pares cruzam

Brincadeira sem igual

Antigo tal qual barroco

Cujo nome é pererenga (5)

QUEM GOSTA DE COMER COCO

FICA COM CARA DE QUENGA

(¹) – Pessoa cheia de lábia.

(²) – Espécie de lagartixa.

(³) – Faca velha, cega, sem cabo.

(4) – Restos, migalhas, sobras.

(5) – Espécie de tambor usado no Maranhão.

Edilson Biol e Ansilgus e Edmilton Torres
Enviado por Edilson Biol em 07/04/2013
Código do texto: T4227853
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