Monteiro Lobato em cordel: A Reforma da Natureza vol.II
Meus amigos leitores
Vou dar continuidade
A Reforma da Natureza
Com muita propriedade
Sei que Lobato escreveu
E que tem notoriedade
Acredito que seus contos
Não devem ser esquecidos
Eles são inteligentes
Deixam-nos envaidecidos
Ao Monteiro Lobato
Somos agradecidos
Ao saber que Dona Benta
Estava para viajar
Emília deu um pulo
Ela iria aproveitar
A ausência de Dona Benta
Para poder arquitetar
Dona Benta estranhou
Emília não querer ir
Emília argumentou
Se eu for, quero intervir!
Não vou ficar calada
Tenho que interagir
Dona Benta pensativa
Foi a Nastácia Consultar
Um tacho de goiabada
Ela estava a aprontar
Nastácia então lhe disse
Emília vai atrapalhar
Dona Benta pensou
E nós vamos deixá-la assim?
Ela fica com o Conselheiro
O nosso bondoso Quindim
Que tem juízo de sobra
Não vai ser tão ruim
Narizinho que é a menina
Do nariz arrebitado
Disse: Isto está estranho
Tem algo mal contado
Se ela quer ficar sozinha
Quer fazer algo errado
Dona Benta que era
A democracia em pessoa
Com a sua autoridade
Não desconfia atoa
Uma idosa tão sábia
Com índole de gente boa
Respeitou a vontade de Emília
Acatou o seu direito
Direito de ir e vir
Está contido no pleito
No Sítio se respeita
A Vontade do Sujeito
Quando menos esperava
Chegou o grande dia
Chegaram de navio
O único que existia
Para levar Benta e Nastácia
Para outra dinastia
Com as malas prontas
E vestidos de Gongorrão
Nastácia estava vestida
Com estampas de algodão
Todas entusiasmadas
Cheias de animação
Com seus vestidos antigos
Do tempo do Imperador
Benta e Nastácia
Mostravam todo esplendor
Levaram também seus netos
E o Visconde de consultor
Emília e o Quindim
Os levaram até a porteira
Nastácia recomendou
Emília, não faça besteira
Cuide bem dos animais
E no Quindim não dê rasteira
Não vá mexer no ninho
Não ajude aos pintinhos
Deixe a natureza agir
Quebrando as cascas sozinhos
Eles sabem se virar
Sem ajuda dos vizinhos
Ao verem Benta e Nastácia
Fazerem recomendações
Os chefes pensativos
Em suas posições
Elas farão sucesso
Em suas intervenções
Assim que se viu sozinha
Emília pôs-se a correr
Dirigiu-se a boneca
Até a máquina de escrever
E para uma amiga
Uma carta foi bater
A menina morava
Lá no Rio de Janeiro
Elas se correspondiam
Pense num povo arteiro
Confabulavam coisas
Planejando o tempo inteiro
Na carta Emília escreveu
Querida rã, estou só!
Você é uma das minhas
Vamos desatar o nó
Reformar a natureza
Deste mundo tenho dó!
Venha passar comigo
Uma bela temporada
Se sua mãe não concordar
Venha, pois está muito enganada
Tu sabes que sou esperta
E muito boa camarada
Vamos começar nossa reforma
No Sítio do Pica Pau amarelo
Se tudo der certo
Faremos um paralelo
Vão querer nos copiar
Para o mundo ficar mais belo
Estou me sentindo meio tênia
Após a partida da vovó
Como assim, tênia?
É o mesmo que solitária, só!
Tênia não é um verme?
É mais eu encurto, tenha dó!
A menina era chamada de rã
Por causa de sua magreza
Ela tinha onze anos
E também muita esperteza
Ela era Emilíssima
Disto tenha certeza
Cheire metade deste pó
Que vai num saquinho de papel
Se cheirares mais que isto
Vais parar lá no quartel
Use a quantia certa
A receita é fiel
A menina leu a carta
E em duas partes foi dividir
“Bissolutamente” Iguais
A receita foi seguir
Emília reformou a língua
Eu já pude pressentir
A mãe da rã questiona
O que é isto tens em tua mão?
Eu estou apenas bi
Foi essa a informação
Na linguagem Emiliana
Bi, quer dizer divisão
A boa senhora ouviu
Sem nada entender
Já estava acostumada
Ela não pagou para ver
Eram tantos enigmas
E ela tinha o que fazer
A Rãzinha cheirou o pó
Com a instrução correta
Ao fechar os olhos
E em posição ereta
Ouviu uns assobios
Ela fez a coisa certa
Chegando lá no Sítio
Ela se viu num terreiro
A casa estava fechada
E o Quindim roncou primeiro
Rabicó a mastigar
É guloso por derradeiro
Ainda sentada e tonta
A menina começou a gritar
Emília, Emilinha,Emiloca!
Por aqui vou encerrar
Na próxima edição
É que vou continuar