A LENDA DA CARRUAGEM DE ANA JANSEN
Em São Luís do Maranhão
A mais de dois séculos viveu,
Ana Joaquina Jansen,
De quem fama correu.
Que assombrou muitos em vida
E também quando morreu.
Senhora rica e poderosa,
Integrante da alta aristocracia,
De personalidade marcante.
Dizem que ela fazia
Tudo que lhe desse na telha
E ninguém se intrometia.
Gerou muito descontentamento
Na vizinhança invejosa,
Pois enviuvou duas vezes
Galgando uma fortuna vultosa
Em imóveis e muitos escravos,
Tornando-se muito poderosa.
Mas pelo que ficou notório
Não mereceu fama de santa.
Dizem que era muito perversa
E suas maldades foram tantas,
Que muitas vezes intriga,
E outras até espanta.
É corrente que sendo mulher,
Não se deixava dominar.
Quem a tinha como inimiga
Devia bem se cuidar.
Pois quem entrasse no seu caminho
Ela mandava matar.
E não importava se fosse
Fazendeiro, matuto ou doutor.
Quem pisava em seu calo
Provava do seu humor.
Dizem que uma vez mandou
Atirar um penico de mijo no comendador.
Comentam que seus escravos
Por ela eram muito maltratados.
Se cometessem algum erro
Eram até a morte torturados.
Senão jogados num poço
Para morrem afogados.
De cabeça para baixo
O negro era pendurado
Dentro de um poço profundo.
Dava até dó do coitado.
Podia se ouvir a noite os gritos
Do escravo, desesperado.
Quando algum escravo fugia
Era procurado como um cão.
Ela revirava cada viela
Com a chibata na mão.
Se encontrado, como sofria
O pobre negro fujão.
Era açoitado até desmaiar,
Depois no tronco amarrado.
Se não morresse o infeliz
Era num quarto trancado.
Por três semanas a fio
A pão e água tratado.
Há comentários que a mesma
Era ainda mais pervertida.
Se um escravo se revoltasse
Até sua alma era punida,
Pois ela mandava cavar uma cova
E enterrar o pobre com vida.
Contam que quando ela ia
Ao seu sítio passear
Dos negros fazia tapete
Para os sapatos não sujar.
E coitado daquele infeliz
Que não se deixasse pisar.
De tudo que contam não sei
O que é mentira ou verdade.
Sei que Ana Jensen de fato
Foi uma grande personalidade
E ganhou fama na ilha
Por causa das suas maldades.
Tantas maldades lhe rendeu
Uma sina desgraçada:
Contam os antigos que ela
Foi eternamente condenada
A vagar pelas ruas à noite
Como uma alma penada..
De quinta para sexta-feira,
Contam os que já foram assombrados.
Que surge do cemitério
Uma assombração do passado:
Ana Jansen em sua carruagem
Em um tropel encantado.
Uma aparição de dar medo:
Um carro sendo puxado
Por cavalos sem cabeça;
Um negro decapitado;
O fantasma da dita cuja;
E os gemidos dos torturados.
Quem não corre é corajoso.
Não tem medo mesmo de nada,
Mas recebe uma vela acesa
Das mão da alma penada,
Que se transforma em osso humano
Ao findar a madrugada.
Essa é história que o povo conta,
Uma lenda famosa que diz
Não tenho medo de assombração,
Mas encontrar esta nunca quis.
Se você quiser talvez encontre.
Venha visitar São Luís.