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MAJESTADE AO JUMENTO
Segundo o padre Vieira*,
que não era o do sermão,
existe um muar nos campos,
muito comum no sertão,
que tem de nós tudo a ver
– “o jumento, nosso irmão”.
Esse pároco cearense,
homem de muitos saberes,
falou firme, no seu livro,
que, se não lhe deu haveres,
rendeu-lhe mil discussões,
até nos altos poderes.
Se o sacerdote não mente,
como desmentir um cura,
todo de rezas blindado
e que lê toda a Escritura,
mas não quer ver do capeta
nem o nome e nem pintura?
Pois seu vigário confessa,
com humor e intrepidez,
que o jerico, muito gente,
merece grande honradez:
transportou Jesus Menino,
que lhe fez xixi, talvez.
Numa fuga pro Egito,
Jesus, José e Maria
valeram-se dum transporte
que nem se tem, hoje em dia.
Estão vendendo os jumentos
pra ser carne na Turquia.
Aquela mancha no lombo
do jumento, bem distinta,
já diz velha tradição,
até com graça o que pinta,
foi Jesus, quando pivete,
que fez com o xixi a tinta.
Mas, de carona em Vieira,
não o luso de Os sermões,
o padre foi muito homem,
ante uns bobos, aos montões,
que só veem preconceitos,
em sangue, raça e tostões.
Por mim, mais que meu irmão,
com toda a sinceridade,
já por ser um bicho bruto,
ao jumento a majestade!
Melhor que muito monarca,
sujo, além da eternidade.
Fort., 21/11/2012.
- - - - -
(*) Antônio Batista Vieira (1910-2003), padre cearense e ex-deputado federal, homônimo do famoso clássico luso-brasileiro, autor de inúmeras cartas e sermões.
O cearense, com quem conversei uma vez e lhe narrei, tempos depois, um fato hilariante, ocorrido no dia do lançamento do último livro, abaixo citado, deixou,
entre quase duas dezenas de obras, 100
cortes sem recortes, O jumento, nosso irmão, Sertão brabo e O verbo amar e suas
complicações.
MAJESTADE AO JUMENTO
Segundo o padre Vieira*,
que não era o do sermão,
existe um muar nos campos,
muito comum no sertão,
que tem de nós tudo a ver
– “o jumento, nosso irmão”.
Esse pároco cearense,
homem de muitos saberes,
falou firme, no seu livro,
que, se não lhe deu haveres,
rendeu-lhe mil discussões,
até nos altos poderes.
Se o sacerdote não mente,
como desmentir um cura,
todo de rezas blindado
e que lê toda a Escritura,
mas não quer ver do capeta
nem o nome e nem pintura?
Pois seu vigário confessa,
com humor e intrepidez,
que o jerico, muito gente,
merece grande honradez:
transportou Jesus Menino,
que lhe fez xixi, talvez.
Numa fuga pro Egito,
Jesus, José e Maria
valeram-se dum transporte
que nem se tem, hoje em dia.
Estão vendendo os jumentos
pra ser carne na Turquia.
Aquela mancha no lombo
do jumento, bem distinta,
já diz velha tradição,
até com graça o que pinta,
foi Jesus, quando pivete,
que fez com o xixi a tinta.
Mas, de carona em Vieira,
não o luso de Os sermões,
o padre foi muito homem,
ante uns bobos, aos montões,
que só veem preconceitos,
em sangue, raça e tostões.
Por mim, mais que meu irmão,
com toda a sinceridade,
já por ser um bicho bruto,
ao jumento a majestade!
Melhor que muito monarca,
sujo, além da eternidade.
Fort., 21/11/2012.
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(*) Antônio Batista Vieira (1910-2003), padre cearense e ex-deputado federal, homônimo do famoso clássico luso-brasileiro, autor de inúmeras cartas e sermões.
O cearense, com quem conversei uma vez e lhe narrei, tempos depois, um fato hilariante, ocorrido no dia do lançamento do último livro, abaixo citado, deixou,
entre quase duas dezenas de obras, 100
cortes sem recortes, O jumento, nosso irmão, Sertão brabo e O verbo amar e suas
complicações.