A MALDIÇÃO CÍTRICA

Todos gostavam tanto

De Zezinho do Lapão

Era realmente um cara

De grande coração

Até o dia em que técnicos

Apareceram em sua propriedade

Mostrando estratégias

Para alavancar a produtividade

Logo aquele rapaz

Que vivia da subsistência

Mostrou-se ser empreendedor

De grande competência

Mas a medida

Que deixava de ser pobre

Ia sofrendo

Uma nefasta metamorfose

Antes ele nunca havia

Dito a alguém um não

Passou a ser egoísta

De tudo fazia questão

Sempre em nome

Da cobiçada produtividade

Não deixava nem mesmo um peão

Comer um fruto na propriedade

Não demorou se tornando

Um terrível coronel

O senhor dos laranjais

Um ser terrível e cruel

Que impunha seu poder

De uma forma detratora

Explorando a pequena propriedade

E a massa trabalhadora

Mas não demorou muito

O troco do destino

Ao ver um peão comendo um fruto

E ser tomado pelo desatino

Tomou com fúria a laranja

Fazendo caretas tantas

Que um pequeno bago

Ficou preso na garganta

Logo ele começou

A ficar desesperado

Deu uma tossezinha ficando

Ainda mais engasgado

Tentou de todo modo

Usando todos os gestos que tinha

A convencer ao peão

Ao dar nas suas costas um tapinha

O peão tomado pelo terror

Continuou estático

Achando que aqueles gestos

Faziam parte do espetáculo

Ele só teve ideia

Da gravidade da situação

Quando o coronel deu um rodopio

E caiu de cara no chão

Quem herdou o latifúndio

Foi o filho mais velho de Zé

Era igualzinho ao pai

Usava até o mesmo boné

Apesar de matuto

Não era tão burro

E não comia laranja em bagos

Só tomava suco

kakaos
Enviado por kakaos em 08/11/2012
Reeditado em 29/01/2023
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