A MALDIÇÃO CÍTRICA
Todos gostavam tanto
De Zezinho do Lapão
Era realmente um cara
De grande coração
Até o dia em que técnicos
Apareceram em sua propriedade
Mostrando estratégias
Para alavancar a produtividade
Logo aquele rapaz
Que vivia da subsistência
Mostrou-se ser empreendedor
De grande competência
Mas a medida
Que deixava de ser pobre
Ia sofrendo
Uma nefasta metamorfose
Antes ele nunca havia
Dito a alguém um não
Passou a ser egoísta
De tudo fazia questão
Sempre em nome
Da cobiçada produtividade
Não deixava nem mesmo um peão
Comer um fruto na propriedade
Não demorou se tornando
Um terrível coronel
O senhor dos laranjais
Um ser terrível e cruel
Que impunha seu poder
De uma forma detratora
Explorando a pequena propriedade
E a massa trabalhadora
Mas não demorou muito
O troco do destino
Ao ver um peão comendo um fruto
E ser tomado pelo desatino
Tomou com fúria a laranja
Fazendo caretas tantas
Que um pequeno bago
Ficou preso na garganta
Logo ele começou
A ficar desesperado
Deu uma tossezinha ficando
Ainda mais engasgado
Tentou de todo modo
Usando todos os gestos que tinha
A convencer ao peão
Ao dar nas suas costas um tapinha
O peão tomado pelo terror
Continuou estático
Achando que aqueles gestos
Faziam parte do espetáculo
Ele só teve ideia
Da gravidade da situação
Quando o coronel deu um rodopio
E caiu de cara no chão
Quem herdou o latifúndio
Foi o filho mais velho de Zé
Era igualzinho ao pai
Usava até o mesmo boné
Apesar de matuto
Não era tão burro
E não comia laranja em bagos
Só tomava suco