Dormindo Com O Bode
Vou lhes contar uma história,
Que se deu no meu sertão,
Pras bandas da serra preta,
Depois do sítio São João.
Foi assim que me contou,
O meu compadre Chiquinho
Dizendo que o caso foi,
Com José, o seu vizinho.
Tratava-se de homem sério,
Por todos muito querido,
Trabalhador como mouro;
Era bom pai, bom marido.
Porém, por uma desdita,
Sua mulher faleceu.
Sem dar sinais de doença,
Dona Jovita morreu.
No ano setenta e quatro,
Viúvo ficou José,
Com seis filhos pra criar,
E sem ninguém pra ajudar,
Precisou de muita fé.
Com seis crianças pequenas,
Era urgente se casar,
Mas pra aumentar a desgraça,
Mulher ali era escassa,
Não conseguiu encontrar
Depois de muito pensar,
Lembrou-se de sua prima,
Mas eram lembranças vagas,
Já morava em outras plagas
A viu quando era menina.
Mas diante da urgência,
Tempo ele não perdeu,
Encomendou uma carta,
Contando a história exata,
E mandou pra tio seu.
Na carta ele relatava,
Tudo aquele sofrimento;
A vida estava sem beira,
E sendo a moça solteira,
Lhe pediu em casamento.
Raimunda com trinta anos,
Sem nunca ter namorado,
Não pensou nem um minuto:
Disse primo acabe o luto,
E marque logo o noivado.
Mas pra conhecer a noiva,
Tempo, Zé, não tinha, não.
E pra fazer o casório,
Procurou logo um cartório.
Casou por procuração.
Mas quando a mulher chegou,
Seu luto foi aumentado,
Ela era muito feia,
Mas gorda do que balei,
E sem ter nenhum agrado.
Caíram os filhos no choro,
Todos ficaram assombrados,
Pois quando Raimunda ria,
Era um monstro que se via,
Temiam ser devorados.
Não se falava outra coisa,
A mulher era o assunto,
Seu José acabrunhado,
Com os planos naufragados,
Já perecia um defunto.
Mas sendo José, do bem,
Um ser de bom coração,
Disse a gorda, te acolho,
Mas com uma condição:
Você vai dormir na rede,
Eu durmo no meu colchão.
Ficou a mulher zangada,
Pois nisso não via nexo;
Se já estavam casados,
Porque não havia sexo?
O homem já perturbado,
Disse, Jesus acode!
Pediu e foi atendido.
Disse-lhe a voz no ouvido:
- Vai te socorrer com o bode.
Ele entendeu o recado,
pra no bicho se esfregar,
E quando estava fendendo,
Muito mais que um gambá.
Foi se achegando em Raimunda,
Apalpando a sua banda,
E prometendo lhe amar.
A mocréia lhe agrediu,
Quase lhe arranca o bigode,
Disse seu cabra nojento,
Seu cabeça de jumento,
Pode dormir com o bode.
Estou me sentindo rasa,
Voltarei pra minha casa,
Nunca gostei de pagode.
E foi assim que José
Ficou salvo do dragão,
E, contrito prometeu,
Olhando pro bode seu:
Nunca vou de vender não!